domingo, 3 de agosto de 2008

ILE IFÉ ..... O BERÇO DA TERRA


IIê-Ifé : O Berço Religioso dos Yorubas, de Odùduwà a SàngóIlê-Ifé a origem do Mundo A cidade de Ilê-Ifé é considerada pelos yorubas o lugar de origem de suas primeiras tribos. lfé é o berço de toda religião tradicional yoruba (a religião dos Òrìsà, o Candomblé do Brasil),é um lugar sagrado, onde os deuses al chegaram, criaram e povoaram o mundo e depois ensinaram aos mortais como os cultuarem, nos primórdios da civilização. Ilê-Ifé é o "Berço da Terra"."Em um tempo onde os Deuses e Heróis andavam na terra com os Homens."OlódùmarèOlódùmarè o ser superior dos yorubas, que vive num universo paralelo aonosso, conhecido como Òrún, por isso Ele é também conhecido como Àjàlórúne Olórun "Senhor ou Rei do Òrún", que através dos Òrìsà por Ele criado,resolve incumbir um dos Òrìsà funfun (do branco), Òrínsànlá, (o grandeÒrìsà) o primeiro a ser criado, também chamado de Òrìsà-nlá e de Obàtálá,de criar e governar o futuro Àiyé : a Terra, do nosso universo conhecido.Ele lhe entrega o Àpò-Iwá (a sacola da existência) o qual contém todas ascoisas necessárias para a criação, e é aclamado como Aláàbáláàse, "Senhorque tem o poder de sugerir e realizar". Como a tradição mandava, paratodos, antes de iniciar a viagem ele foi consultar o oráculo de Ifá, comÒrúnmìlà, outro Òrìsà funfun, e este lhe orientou a fazer algunssacrifícios a divindade Èsù, mas se ele já era orgulhoso e prepotente,mais ainda ficou, se recusou e nada fez, mas foi avisado que infortúniospoderiam ocorrer.Òrìsànlá, de posse do Àpò-Iwá, põe-se a caminhar pelo Òrún, para chegar à"porta do espaço", até então um vazio, que viria a ser o Àiyé. Ele é oÒrìsà que usa um cajado ritual conhecida como òpásóró, durante o caminho,com muita sede, ele se defronta com o igi-òpé (árvore do dendêzeiro) e como seu òpásóró, perfura o caule da árvore da qual começa a "jorrar o emu"(vinho de palma), e põe-se a beber, a tal ponto, que cai totalmenteembriagado no pé da palmeira e dorme profundamente. O infortúnio começaacontecer.OdùduwàOutro Òrìsà funfun, o segundo criado por Olódùmarè, por conceito"irmão mais novo" de Òrìsànlá, ficou enciumado, porque Olódùmarè tinhaentregado a Òrìsànlá o Àpò-Iwá, e o estava seguindo pelos caminhos doÒrún, esperando que ele cometesse algum deslize, o que de fato aconteceu.Odùduwà, encontrando-o naquele estado, apodera-se do Àpò-Iwá e leva-o até Olódùmarè, narrando o acontecido, e, por este fato, Olódùmarè delega aOdùduwà o poder de criar o Àiyé e por punição incumbe a Òrìsànlá desomente criar e modelar os corpos dos seres humanos no Òrún, sob suasupervisão e o proíbe terminantemente de nunca mais beber o emu. Odùduwà,então, cumpre a tradição e faz as obrigações, para se tornar o progenitor dos Yorubas, do Mundo : Olófin Odùduwà, o futuro Àjàlàiyé.Desde então a relação tempestuosa entre Odùduwà e Obàtálá se perpetuou,ora em disputas, discórdias, controvérsias e de outras formas, mas sempremunindo a eterna rivalidade.Odùduwà chegando ao Àiyé, cria tudo o que era necessário e delega poderes às divindades que o seguiram, conhecidos como os Àgbà, para governarem a criação, e volta ao Òrún, e só retornaria quando tudo estivesse realmente concluído. Òrìsànlá, que tinha ficado no Òrún com seus seguidores, já tinha moldado corpos suficientes para povoar o inicio do mundo, vai então para o Àiyé, com seus seguidores, os Funfun; fato que ocorre antes da volta de Odùduwà para o Àiyé. Quando Olófin Odùduwà retorna ao Àiyé, funda a cidade de Ilê-Ifé, e vem a ser o primeiro Oba (rei) do povo yorubano com o titulo de "Oba Óòni", ou seja, o primeiro Óòni de Ifé, e a cidade se torna a morada dos deuses e dos novos seres.Durante todo este tempo, Odùduwà que já estava casado com Ìyá Olóòkun,divindade feminina, responsável e dona dos mares, tem dois filhos, oprimogênito, a divindade Ògún e uma filha de nome Ìsèdélè. O tempo passa,e Odùduwà, que era uma divindade negra, porém albina, incumbe seu filhoÒgún de ir para a aldeia de Ògòtún, vizinha de Ifé, conter uma rebelião.Ògún, divindade negra, senhor do ferro, parte para sua missão e realiza ointento, trazendo consigo Lakanje, filha do rebelde vencido. Ora, Lakanjeera espólio de Odùduwà, o Óòni de lfé, portanto intocável, mas Lakanje eramuito bela e extremamente sensual e Ògún não resistiu aos seus encantos ecom ela teve várias noites de amor, durante sua viagem de volta. Chegandoa lfé, ele entrega os espólios da conquista, inclusive Lakanje, a seu paiOdùduwà, que também não resistiu aos lindos encantos da mortal Lakanje epor ela se apaixona e acabaram por casar-se. Ògún nada tinha contado a seupai dos fatos ocorridos e logo após o casamento Lakanje está grávida,desta gravidez nasce um filho de nome Odéde.Só que o destino foi fatídico, Odéde nasceu metade negro, como a pele deÒgún e metade branco, como a pele do albino Odùduwà, revelando assim, atraição de Ògún para com a confiança do seu pai, esta situação gerou muitadiscussão entre Odùduwà e Ògún, mas a principal foi "quem tinha razão",ou, quem teria mais "genes" no filho em comum, Odéde, e cada um seposicionava com a seguinte frase : "a minha palavra triunfou" ou "a minhapalavra é a correta", que aglutinada é Òrànmíyàn e foi assim que elepassou a ser chamado e conhecido.Com Lakanje, uma das muitas esposas de Odùduwà, ou com outras, teve ou já tinha mais seis filhos, outros dizem dezesseis, uns, um número maiorainda, enfim, alguns dos filhos destas esposas, geraram as linhagens dosObas Yorubanos, uns foram os precursores de sete das principais tribos, oumais, que deram origem à civilização dos yorubas, e religiosamentefalando, todos os povos do mundo. Os filhos, netos ou bisnetos de Odùduwà, os deuses, semideuses e/ou heróis, formaram a base da nação yoruba, portanto Olófin Odùduwà Àjàlàiyé é aclamado como "O Patriarca dosYorubas".Obàtálá (Òrìsànlá) ,que também já estava no Àiyé com sua comitiva, masdevido a grande rivalidade com Odùduwà, foi expulso de Ilê-Ifé e funda acidade de Ìgbò e se torna o primeiro Obà Ìgbò chamado também de Bàbá Ìgbò, pai dos ìgbòs. Numa sociedade polígama, Òrìsànlá é um caso raro demonogamia, pois a divindade Yemowo foi sua única esposa e não tiveramfilhos.ÒrànmíyànApós grandes vitórias, Òrànmíyàn torna-se o braço direito de seu pai emIlê-Ifê, pois seus outros irmãos foram povoar regiões distantes, menosObàlùfan Ògbógbódirin. Odùduwà ordena então que Òrànmíyàn conquiste terras ao norte de Ifé, mas Òrànmíyàn não consegue cumprir a tarefa e saiderrotado e, com vergonha de encarar seu pai, não volta mais a Ifé, comisso funda uma nova cidade e lhe dá o nome de Oyó, tornando-se o primeiroOba Aláàfin de Oyó. Casado com Morèmi, uma bela mortal ,nativa de Òfà ,que se tornou mais tarde uma heroína em Ilê-Ifé, da qual tem um filho, que recebe o nome de Ajaká. Após algum tempo, Òrànmíyàn investe em novas conquistas e volta a guerrear contra a Nação dos Tapas, onde havia sido derrotado, mas desta vez consegue uma grande vitória sobre Elémpe, na época rei dos Tapas. Por sua derrota, Elémpe entrega-lhe sua filha Torosí, para que se case com ele. Retornando a Oyó, Òrànmíyàn casa-se com Torosí e com ela tem um filho, chamado de Sàngó, um mortal, nascido de uma mãe mortal e um pai semideus, portanto com ascendentes divinos por parte de pai.Após este período com inúmeras vitórias, a cidade de Oyó torna-se umpoderoso império, Òrànmíyàn, prestigiado e redimido de sua vergonha, voltapara Ilê-Ifé, deixando em seu lugar, em Oyó, o príncipe coroado, seu filhoAjaká, que torna-se o segundo Aláàfin de Oyó.Em uma de suas conquistas, a da cidade de Benin, anterior a fundação deOyó, Òrànmíyàn termina com a dinastia de Ogìso, o então rei, expulsando-oe assumindo o trono, tornando-se o primeiro Obabínín, e inicia suadinastia tendo um filho, chamado Èwékà, com uma mulher do local. Antes dedeixar a cidade, ele torna Èwékà como seu sucessor no trono do Benin.(Atual cidade na Nigéria, antigo Reino do Benin, não confundir com aRepública do Benin, antigo país chamado Daomé.)Durante sua longa ausência em Ilê-Ifé, Obàlùfan Ògbógbódirin ,seu irmãomais velho, se tornou o segundo Óòni de Ifé, após o reinado de Odùduwà.Quando Obàlùfan morreu, e ninguém sabia do paradeiro de Òrànmíyàn, o povo de Ifé aclamou Obàlùfan Aláyémore como sucessor direto de seu pai.Quando Òrànmíyàn chega em Ifé, Obàlùfan Aláyémore já reinava como oterceiro Óòni de Ifé, mas com um fraco reinado. Enfurecido com o povo deIfé que haviam aclamado Aláyémore, e que o tinham chamado para combaterpossíveis inimigos, o poderoso guerreiro colérico ,comete variasatrocidades e só para quando uma anciã grita desesperada que ele estádestruindo seus "próprios filhos", o seu povo. Atônito, ele finca no chãoseu asà (escudo) que imediatamente se transforma em uma enorme laje depedra ,num lugar hoje chamado de "Ìta Alásà" ,e decide ir embora e nuncamais voltar à Ifé.Quando rumava para fora dos arredores de Ifé ,em Mòpá, foi interceptadopelo povo que o saudavam como Óòni de Ifé e suplicavam por sua volta. Eleentão satisfeito e envaidecido ,atende ao povo e finca no chão seu òpá(seu bastão de guerreiro) transformando-o em um monólito de granito (verfoto : Òpá Òrànmíyàn) selando assim o acordo com o povo e volta em umaprocissão triunfante ao palácio de Ifé.Sabendo disso, Obàlùfan Aláyémore abandona o palácio e se exila na cidadede Ìlárá. Òrànmíyàn ascende ao trono e se torna o 4ª Óòni de Ifé até suamorte. Obàlùfan Aláyémore, retorna do exílio e reassume como o 5ª Óòni deIfé e reina deste vez, com sucesso até a sua morte.AjakáO Aláàfin de Oyó, o Oba Ajaká, meio irmão de Sàngó, era muito pacifico,apático e não realizava um bom governo.Sàngó, que cresceu nas terras dos Tapas ( Nupe), local de origem deTorosí, sua mãe, e mais tarde se instalou na cidade de Kòso, mesmorejeitado pelo povo por ser violento e incontrolável, mas sendo tirânico,se aclamou como Oba Kòso. Mais tarde, com seus seguidores, se estabeleceu em Oyó, num bairro que recebeu o mesmo nome da cidade que viveu, Kòso e com isso manteve seu titulo de Oba Kòso. Sàngó percebendo a fraqueza de seu irmão e sendo astuto e ávido por poder, destrona Ajaká e torna-se o terceiro Aláàfin de Oyó.Ajaká, também chamado de Dadá, exilado, sai de Oyó para reinar numa cidade menor, Igboho ,vizinha de Oyó, e não poderia mais usar a coroa real de Oyó. E, com vergonha por ter sido deposto, jura que neste seu reinado vai usar uma outra coroa (ade), que lhe cubra seus olhos envergonhados e que somente irá tira-la quando ele puder usar novamente o ade que lhe foiroubado. Esta coroa que Dadá Ajaká passa a usar, é rodeada por vários fiosornados de búzios no lugar das contas preciosas do Ade Real de Oyó, e estachama-se Ade Bayánni Dadá Ajaká então casa-se e tem um filhoque chama-se Aganju, que vem a ser sobrinho de Sàngó.Sàngó reina durante sete anos sobre Oyó e com intenso remorso das inúmeras atrocidades cometidas e com o povo revoltado, ele abandona o trono de Oyó e se refugia na terra natal de sua mãe em Tapa. Após um tempo, suicida-se,enforcando-se numa árvore chamada de àyòn (àyàn) na cidade de Kòso. Com o fato consumado, Dadá Ajaká volta à Oyó e reassume o trono, retira então o Ade Bayánni e passa a usar o Ade Aláàfin, tornando-se então o quarto Aláàfin de Oyó. Após sua morte, assume o trono seu filho Aganju, neto de Òrànmíyàn e sobrinho de Sàngó, tornando-se o quinto Aláàfin de Oyó.Com Aganju, termina o primeiro período da formação dos povos yoruba e após seu reinado se dá inicio ao segundo período, o dos reis históricos. Vimos : "De Ifé até Oyó, de Odùduwà a Aganju, passando por Sàngó."SàngóO que notamos nesse primeiro período yorubano, é que na realidade, o quese fala de Sàngó, e a sua história nos Candomblés do Brasil, e de outrosacima descritos, é incorreto, levando os fiéis a crer em fatos irreais. Inicialmente, averiguamos que Odùduwà é um Òrìsà funfun masculino e único, é o pai do povo yorubano e não uma simples "qualidade" de Òrìsànlá ou seja, são divindades totalmente distintas, inclusive, não se suportavam,pelos fatos vistos; e que também Ìyá Olóòkun, é um Òrìsà feminino e a Donado Mar, portanto da água salgada, é quem governa os oceanos e não o ÒrìsàYemojá, "Senhora do rio Yemojá e do rio Ògùn", divindade de água doce, emuito menos mãe de Ògún e de outros filhos Òrìsà à ela atribuídos. Notar aacentuação diferente no nome do Òrìsà Ògún e do rio, pois são palavrasdistintas.Quanto a Sàngó, demonstramos que foi um mortal em sua vida no Àiyé,portanto quando morreu, tornou-se um egún, pois seus pais eram mortais. Oque ocorreu em sua vida, foi que uma de suas esposas, e a única que oacompanhou em sua fuga de Oyó, era a divindade Oya, loucamente apaixonada por ele, e no instante de sua morte ela o pega com o seu poder de Òrìsà e o conduz diretamente a Olódùmarè, e por insistência de Oya, Ele o "ressuscita" como uma divindade, já que em vida, Oya, perdida de amores,ensina-lhe vários segredos dos Òrìsà, principalmente o segredo do fogo quepertencia somente a Oya, que ela lhe ensina e lhe dá este poder e outros,por paixão.Esta afirmação é facilmente notada, pois Sàngó é a única divindade dopanteão que é assentada de forma material completamente diferente, isto é,em madeira, numa gamela sobre um pilão, sua roupa ritual é composta devárias tiras de panos, coloridas e soltas, caindo sobre as pernas, quelembra perfeitamente o tipo de roupa usada pelos Bàbá Egúngún (ancestrais) e seu animal preferido para sacrifício é também o mesmo dos egún, dos mortos comum, o carneiro; existe também outras minúcias, que aqui não cabe mencionar.Nos Candomblés, citam Ajaká e Aganju como sendo "qualidades" de Sàngó, que agora sabemos isto não é possível, pois, Ajaká é seu meio irmão e Aganju é filho de Dadá Ajaká, portanto seu sobrinho, notoriamente pessoas mortais e completamente distintas, que fazem parte da família de Sàngó, mas não tiveram a honra de tornarem-se Òrìsà, mas são ancestrais ilustres. Também no Brasil, faz-se uma cerimônia chamada de "Coroa de Dadá" ou "Adê Baiani". que a coroa é levada ritualmente em uma charola durante as festas do ciclo de Sàngó chamada de Banni ou lyamasse, que representa a mãe de Sàngó. Ora, sabemos que quem usou este ade foi, Ajaká, apelidado de Dadá, de quem Sàngó lhe roubou o trono, e que a mãe de Sàngó foi Torosí, filha de Elémpe, rei dos Tapa, e que ela não tem nenhuma importância teológica, somente histórica, por ter sido mãe de um Aláàfin.Não estamos desmerecendo e nem tampouco desprestigiando o Òrìsà Sàngó, somente tentamos elucidar fatos notoriamente conhecidos na terra dos Yorubas, sob os aspectos histórico, através da tradição oral, e divino que se convergem e se conservam na grandiosidade de Sàngó.NOTA* : Os mitos e/ou fatos relatados, são baseados em dados religiosos,por vezes dogmáticos, que pertencem ao corpo da tradição oral yorubana.Sob o ponto de vista cientifico, são considerados parcialmente históricos,pois não são dados comprovados por documentos e nem tampouco pelaarqueologia, que pouco investiu, os "pouquíssimos" artefatos que foramachados e datados pelo carbono 14, são de datas recentes, perto dalongínqua História da Civilização Yoruba. No contraponto, em nenhummomento afirmamos que não exista a História dos Yorubas, isto sim, seriaum absurdo afirmar. A tradição oral pode ser contraditória e a cronologiapraticamente inexistente, pela forma cultural dos yorubas mensurarem otempo, mas jamais poderá ser negligenciada e nem tampouco rejeitada.*Nota do autorAulo Barretti Filho

quarta-feira, 30 de julho de 2008

LENDA DE OLOKUN


Como Olokun se torna a Rainha das Águas
Olokun, senhora das águas, consulta Ifá, numa época em que suas águas não eram bastantes para que alguém nelas lavasse o rosto. Se alguém recolhesse água em seu leito, recolheria, também, areia. Porque ela estava pobre de água.
Olossá, senhora da lagoa, consulta Ifá, numa época em que suas águas não eram bastantes para que alguém nelas, lavasse os pés. Se alguém quisesse com elas lavar os pés, sujar-se-ia de lama e areia. Pois havia, na lagoa, muito pouca água.
Olokun e Ôlossá foram, ambas, aos pés de Orunmilá rogar-lhe examinar os seus casos. Poderiam elas tornar-se as maiores do mundo?
Orunmilá respondeu que se elas pudessem fazer as oferendas que ele escolhera para elas, suas vidas seriam um sucesso. Ele disse que Olokun deveria oferecer duzentas cobertas pretas, duzentas cobertas brancas, um carneiro e vinte e seis mil búzios da costa. Depois ele recomendou a Olossá que fizesse o mesmo. Olokun fez as oferendas. Ela empregou tudo o que possuía. Ela chegou a empregar-se, como serva, para completar as oferendas.
Olossá fez também as oferendas com tudo o que possuía. Mas suas oferendas não foram completas, porque ela não encontrou onde se empregar.
Oxum, o rio, elegante senhora do pente de coral, consultou Ifá no dia em que ia conduzir todos os rios.
Os rios não sabiam em que direcção seguir.
Eles correriam para a frente ou para trás?
E haviam pedido o conselho de Oxum.
Ifá respondeu: "Tu, Oxum, vais a um certo lugar e, neste lugar, serás muito bem recebida. Os outros rios te seguirão. Nenhum outro poderá proceder-te em nenhum lugar onde estejas presente."
Oxum reuniu todos os rios, e os rios seguiram todos juntos. Quando chegaram à beira da Lagoa (osa) eles a cobriram completamente, quando deixaram a lagoa, eles cobriram completamente o mar (okun). Foi colocada a questão quem seria a rainha das águas.
Olokun declarou: "O território onde vocês se encontram é meu!"
Eles discutiam aqui e ali. Olodumaré manifestou-se então: "A que possui o território é a rainha!"
Olokun foi por direito a rainha. Olossá disse aos rios que se retirassem das suas terras, mas os rios não encontraram saída por onde passar. Assim, Olossá foi eleita segunda pessoa de Olokun. A cada ano, todos os rios vêm adorá-la.
Foi assim que Olokun e Olossá se tornaram populares na Terra e famosas no mundo dos Deuses.

OLOKUN


OLOKUN, orixá de grande importância, ainda pouco conhecido no Brasil, porém muito difundido e cultuado na Nigéria.
As crenças, em geral, são fundamentadas em algo original ou histórico; na África existem inúmeras. Diz-se que OLODUMARÉ vagava pelo espaço, quando somente havia pedras e fogo. Em função do vapor produzido pelas chamas, grande quantidade de nuvens se acumulou no espaço, precipitando sob a forma de chuva. Onde o fogo havia queimado mais, o terreno ficou mais profundo, dando origem aos grandes oceanos que cercam a terra. Neste momento, nascem todas as YEMANJÁS do mar, desde OCUTÉ até OLOKUN, que é a mais alta representação dos orixás, depois de ODUDUWA.
Quando o mundo se formou, existia maior quantidade de água do que de terra e, por isso, OLOKUN ocupa o segundo lugar no panteão yorubá. Esta divindade, também, é conhecida pelo nome de AAGANA-EKUN IJÁ MOAJÉ, que significa “a profundidade dos oceanos, mãe dos peixes e dos caracóis do mundo”. Ninguém sabe o que há no fundo do mar, isto é tratado no signo Iroso Meji (4-4 Meji), um dos signos do meridilogun; daí vindo a reza: OMI TUTO, ONA TUTO, TUTO ILÊ, TUTO ARIKU BABAWA (água fresca em minha vida, água fresca em minha casa, água fresca para todos os espíritos bons desta vida).
Com OLOKUN vivem dois espíritos: SAMUGAGAWA, que simboliza a vida e ACARO, que simboliza a morte. Ambos estão representados nas ferramentas de OLOKUN.
Este orixá não fala diretamente por sua boca, mas se comunica através de YEMANJÁ, já que esta foi o primeiro caminho que veio à terra e que, também, se denominou YEMBÓ. Gostaria de chamar-lhes a atenção quando digo “caminho de orixá”, pois muitos interpretam mal o que isto significa. Por exemplo, YEMANJÁ possui oito caminhos: primeiro YEMBÓ, segundo OLOKUN, terceiro MAYELEWÓ, quarto ASHABÁ, quinto OCUTÉ, sexto OCOTÓ, sétimo IBU-ARU e oitavo IBU AYEE. Estes caminhos estão representados nos sete mares que rodeiam a terra e nas sete reencarnações deste orixá em sua trajetória. Tudo isto está explicado em um patakin do signo Iroso Ogbe (4-8).
Existe a tradição de assentar OLOKUN para todos aqueles que irão fazer YEMANJÁ. OLOKUN só se assenta, ou seja, não se faz na cabeça de ninguém; aos filhos de OLOKUN se faz YEMANJÁ. Também, se assenta OLOKUN a qualquer pessoa que seja feita, não importando o santo, porém deve possuir assentamento de ESÚ. Os signos (4-7), (7-4), (4-3), (3-4), (7-7) e (1-4) tratam desta questão. Caso uma pessoa tenha algum impedimento para o feitura do santo, também, assentamos OLOKUN para esta, com o objetivo de garantir sua saúde e, particularmente, para protegê-la de doenças graves, até que seja possível a feitura do santo, porém, antes, ESÚ deve ser assentado.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

LENDA DE ERINLÉ


Orunmilá consultou Ifá, antes de deixar Ifé, para ir a um país de vales.Os adivinhos lhe disseram:"Neste país de vales, onde pretendes ir, encontrarás um bom amigo.Deves fazer oferendas antes de partir, para que tua viagem seja feliz."Orunmilá fez as oferendas. Ele ofereceu quatro pombos e oito mil búzios da costa.Quando ele chegou lá, quando Orunmilá chegou naquele país de vales, ele tornou-se amigo de Erinlê.Erinlê é um caçador.Erinlê é também um guerreiro. Erinlê é, além de tudo, um orixá. Esta amizade foi grande. Erinlê tomou dinheiro emprestado a Orunmilá. O montante deste empréstimo foi de doze mil búzios. Quando chegou a hora de Orunmilá retornar à casa de Ifé, Erinlê teria de reembolsar o empréstimo.Mas ele não tinha dinheiro. Ele sentiu vergonha e foi consultar Ifá. "Onde poderei encontrar este dinheiro?" Os adivinhos lhe aconselharam a oferecer um carneiro, um galo e um cachorro. Disseram-lhe, ainda, que deveria oferecer vinte e um sacos de búzios da costa.Erinlê exclamou: "Ah! Já devo doze mil búzios! Onde poderei encontrar todas estas coisas?" Erinlê tinha um talismã na mãos. A qualquer momento ele poderia, graças a este talismã, transformar-se em água. Quando ele assim o desejasse. Erinlê foi, então, ao lugar onde costumava caçar. Pôs o talismã no chão e entrou terra adentro. Neste lugar havia uma jarra com água. Seus filhos o procuraram durante muito tempo. Eles foram consultar Orunmilá para que ele examinasse o caso. Orunmilá lhes disse: "Façam oferendas para encontrar vosso pai. Talvez não o vereis mais, Mas encontrarão um sinal dele." Disse-lhes, ainda, Que oferecessem sete cachorros, sete carneiros, sete galos e Vinte e um sacos de búzios da costa. Os filhos de Erinlê fizeram as oferendas. Orunmilá lhes dissera, também, que deveriam irCom os carneiros, os cães e os galos, chamar pelo pai. E eles foram. Percorreram todos os lugares onde Erinlê costumava ir. Quando chegaram ao local onde Erinlê entrara terra adentro, Encontraram seus instrumentos de caça: Fuzil, lança, arco e flechas. Todo o material que ele usava para caçar. E, bem no meio disso tudo, eles viram a jarra com água. Esta água começou a escorrer.Esta água era abundante. Os filhos saudaram o pai assim: "Oh! Erinlê, o caçador, retorne à casa! Nós oferecemos carneiro, cachorro e galos!" E chamaram Erinlê, sem descanso. Quando eles ofereceram estas coisas, o rio os seguiu no caminho de casa. Erinlê lhes disse para deixar os galos livres, no lugar onde os encontraram. Os galos que naquele dia eles deixaram livres, são os galos que Erinlê cria perto de seu rio, até hoje. Ninguém ousa mata-los. Certa vez, pessoas ignorantes mataram alguns. Mas os galos ressuscitavam sempre. Dede que o prato estivesse pronto, Os galos saltavam da tigela, Batiam novamente suas asas – Puf! Puf! Puf! E iam empoleirar-se numa árvore Akô, Cantando de novo seu cocoricô!No mesmo momento em que Erinlê, o rio, se pôs a correr, Oxum preparava-se para partir da cidade de Ijumu. Ela também se pôs a correr. E eles se encontraram perto de Edé. Ali onde se encontraram, o leito destes rios é suave – eles estão felizes. E o curso de ambos tornou-se um mesmo. Juntos, eles correm para a lagoa.

LENDA DE IROKO


I" ...No começo dos tempos, a primeira árvore plantada foi Iroko. Iroko foi a primeira de todas as árvores, mais antiga que o mogno, o pé de obi e o algodoeiro. Na mais velha das árvores de Iroko, morava seu espírito. E o espírito de Iroko era capaz de muitas mágicas e magias. Iroko assombrava todo mundo, assim se divertia. À noite saia com o alugbongbo na mão, assustando os caçadores. Quando não tinha o que fazer, brincava com as pedras que guardava nos ocos de seu tronco. Fazia muitas mágicas, para o bem e para o mal. Todos temiam IroKo e seus poderes e quem o olhasse de frente enlouquecia até a morte. Numa certa época, nenhuma das mulheres da aldeia engravidava. Já não havia crianças pequenas no povoado e todos estavam desesperados. Foi então que as mulheres tiveram a idéia de recorrer aos mágicos poderes de Iroko. Juntaram-se em círculo ao redor da árvore sagrada, tendo o cuidado de manter as costas voltadas para o tronco. Não ousavam olhar para a grande planta face a face, pois, os que olhavam Iroko de frente enlouqueciam e morriam. Suplicaram a Iroko, pediram a ele que lhes desse filhos. Ele quis logo saber o que teria em troca. As mulheres eram, em sua maioria, esposas de lavradores e prometeram a Iroko milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. Cada uma prometia o que o marido tinha para dar. Uma das suplicantes, chamada Olurombi, era a mulher do entalhador e seu marido não tinha nada daquilo para oferecer. Olurombi não sabia o que fazer e, no desespero, prometeu dar a IroKo o primeiro filho que tivesse. Nove meses depois a aldeia alegrou-se com o choro de muitos recém-nascidos. As jovens mães, felizes e gratas, foram levar a Iroko suas prendas. Em torno do tronco de Iroko depositaram suas oferendas. Assim Iroko recebeu milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. Olurombi contou toda a história ao marido, mas não pôde cumprir sua promessa. Ela e o marido apegaram-se demais ao menino prometido. No dia da oferenda, Olurombi ficou de longe, segurando nos braços trêmulos, temerosa, a filhinha tão querida. E o tempo passou. Olurombi mantinha a criança longe da árvore. Mas um belo dia, passava Olurombi pelas imediações do Iroko, entretida que estava, vindo do mercado, quando, no meio da estrada, bem na sua frente, saltou o temível espírito da árvore. Disse Iroko: "Tu me prometeste a menina e não cumpriste a palavra dada. Transformo-te então num pássaro, para que vivas sempre aprisionada em minha copa." E transformou Olurombi num pássaro e ele voou para a copa de Iroko para ali viver para sempre. Olurombi nunca voltou para casa, e o entalhador a procurou, em vão, por toda parte. Ele mantinha a menina em casa, longe de todos. Todos os que passavam perto da árvore ouviam um pássaro que cantava, dizendo o nome de cada oferenda feita a Iroko. Até que um dia, quando o artesão passava perto dali, ele próprio escutou o tal pássaro, que cantava assim: "Onikaluku jeje euwre,euwre,euwre Onikaluku jeje agutan,agutan,bolojo Olurombi jeje Omo re,omo re a pon bi epo Olurombi o, jan-jan Iroko, Iroko, jan-ján (Todo mundo promete cabra Todo mundo promete ovelha bonita Prometeu a filha bonita, uma abiku muito linda Olorumbi não cumpriu o prometido a Iroko Com isso perdeu tudo) Ouvindo o relato de uma história que julgava esquecida, o marido de Olurombi entendeu tudo imediatamente. Sim, só podia ser Olurombi, enfeitiçada por Iroko. Ele tinha que salvar sua mulher! Mas como, se amava tanto sua pequena filha? Ele pensou e pensou e teve uma grande idéia. Foi à floresta, escolheu o mais belo lenho de Iroko, levou-o para casa e começou a entalhar. Da madeira entalhada fez uma cópia do rebento, o mais perfeito boneco que jamais havia esculpido. O fez com os doces traços da filha, sempre alegre, sempre sorridente. Depois poliu e pintou o boneco com esmero, preparando-o com a água perfumada das ervas sagradas. Vestiu a figura de pau com as melhores roupas da menina e a enfeitou com ricas jóias de família e raros adornos. Quando pronto, ele levou a menina de pau a Iroko e a depositou aos pés da árvore sagrada. Iroko gostou muito do presente. Era a menina que ele tanto esperava! E a menina sorria sempre, sua expressão, de alegria. Iroko apreciou sobremaneira o fato de que ela jamais se assustava quando seus olhos se cruzavam. Não fugia dele como os demais mortais, não gritava de pavor e nem lhe dava as costas, com medo de o olhar de frente. Iroko estava feliz. Embalando a criança, sua pequeno menina de pau, batia ritmadamente com os pés no solo e cantava animadamente. Tendo sido paga, enfim, a antiga promessa, Iroko devolveu a Olurombi a forma de mulher. Aliviada e feliz, ela voltou para casa, voltou para o marido artesão e para a filha, já crescida e enfim libertada da promessa. Alguns dias depois, os três levaram para Iroko muitas oferendas. Levaram ebo de milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros, laços de tecido de estampas coloridas para adornar o tronco da árvore. Eram presentes oferecidos por todos os membros da aldeia, felizes e contentes com o retorno de Olurombi..." Até hoje todos levam oferendas a Iroko. Porque Iroko dá o que as pessoas pedem. E todos dão para Iroko o prometido..."Esta bela ìtàn nos mostra como devemos tratar Iroko , sempre que lhe pedimos algo é de suma importância pagarmos o prometido pra não cairmos em seu desagrado , outra coisa é muito comum nas cidades nigerianas vermos em baixo do pé de Iroko geladeiras, bicicletas, jóias, etc... geralmente as famílias pagam a Iroko o que tem de mais valioso em sua casa.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

LENDA DE OTIN


Otim esconde que nasceu com 4 seios" Oquê, rei da cidade de Otã, tinha uma filha.Ela nascera com 4 seios e era chamada de Otim.O rei Oquê adorava sua filha e não permitia que ninguém soubesse de sua deformação.Este era o segredo de Oquê, este era o segredo de Otim.Quando Otim cresceu, o rei aconselho-a a nunca se casar, pois um marido, por mais que a amasse, um dia se aborreceria com ela e revelaria ao mundo seu vergonhoso segredo.Otim ficou muito triste, mas acatou o conselho do pai.Por muitos anos, Otim viveu em Igbajô, uma cidade vizinha, onde trabalhava no mercado.Um dia, um caçador chegou ao mercado, e ficou tão impressionado com a beleza de Otim, que insistiu em casar-se com ela.Otim recusou seu pedido por diversas vezes, mas, diante da insistência do caçador, concordou, impondo uma condição: o caçador nunca deveria mencionar seus quatro seios a ninguém.O caçador concordou, e impos também sua condição: Otim jamais deveria por mel de abalhas na comida dele, porque isso era seu tabu, seu euó.

...
Por muitos anos, Otim viveu feliz com o marido. Mas como era a esposa favorita, as outras esposas sentiram-se muito enciumadas.Um dia, reuniram-se e tramaram contra Otim.Era o dia de Otim cozinhar para o marido; ela preparava um prato de milho amarelo cozido, enfeitado com fatias de coco, o predileto do caçador.Quando Otim deixou a cozinha por alguns instantes, as outras sorrateiramente puseram mel na comida.Quando o caçador chegou em casa e sentou-se para comer, percebeu imediatamente o sabor do ingrediente proibido.Furioso, bateu em Otim e lhe disse as coisas mais cruéis, revelando seu segredo: "Tu, com teus quatro seios, sua filha de uma vaca, como ousaste a quebrar meu tabu?"A novidade espalhou-se pela cidade como fogo.Otim, a mulher de quatro seios, era ridicularizada por todos.Otim, fugiu de casa e deixou a cidade do marido
Voltou para sua cidade, Otã, e refugiou-se no palácio do pai.O velho rei a confortou, mas ele sabia que a noticia chegaria também a sua cidade.Em desespero, Otim fugiu para a floresta.Ao correr, tropeçou e caiu. Nesse momento, Otim transformu-se num rio, e o rio correu para o mar.Seu pai, que a seguia, viu que havia perdido a filha. Lá ia o rio fugindo para o mar.Querendo impedir o Rio de continuar sua fuga, desesperado, atirou-se ao chão, e, ali onde caiu, transformou-se em uma montanha, impedindo o caminho do rio Otim para o mar.Mas Otim contornou a montanha e seguiu seu curso.Oquê, a montanha, e Otim, o rio, são cultuados até hoje em Otã.Odé, o caçador, nunca se esqueceu de sua mulher.Fonte: "mitologia dos Orixás" - Reginaldo Prandi

terça-feira, 24 de junho de 2008

LENDA DE OBALUAIE


Obaluaê
Atotô!
Xapanã nasceu em Empê,no território Tapá,também chamado Nupê.Era um guerreiro terrível que,seguido de suas tropas,percorria o céu e os quatro cantos do mundo.Ele massacrava sem piedade aqueles que se opunham à sua passagem.Seus inimigos saíam dos combates mutilados ou morriam de peste.assim,chegou Xapanã em território Mahi,no Daomé.A terra dos mahis abrangia as cidades de Savalu e Dassa Zumê.Quando souberam da chegada iminente de Xapanã,os habitantes desta região,apavorados,consultaram um adivinho.E assim ele falou:"Ah! O grande guerreiro chegou de Empê!Aquele que se tornará o senhor do país!Aquele que tornará esta terra rica e próspera,chegou!Se o povo não aceitá-lo,ele o destruirá!É necessário que supliquem a Xapanã que vos poupe.Façam-lhe muitas oferendas; todas as que ele goste:inhame pilado,feijão,farinha de milho,azeite de dendê,picadinho de carne de bodee muita,muita pipoca!Será necessário,também,que todos se curvem diante dele,que o respeitem e o sirvam.Desde que o povo o reconheça como pai,Xapanã não o combaterá,mas protegerá a todos!"Quando Xapanã chegou,conduzindo seus ferozes guerreiros,os habitantes de Savalu e Dassa Zumê reverenciaram-no,encostando suas testas no chão,e saudaram-no:Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô!"Respeito e submissão!"Xapanã aceitou os presentes e as homenagens,dizendo:"Está bem! Eu os pouparei!Durante minhas viagens,desde Empê,minha terra natal,sempre encontrei desconfiança e hostilidade.Construam para mim um palácio.É aqui que viverei à partir de agora!"Xapanã instalou-se assim entre os mahis.O país prosperou e enriqueceu,e o grande guerreiro não voltou mais a Empê,no território Tapá,também chamado Nupê.Xapanã é considerado o deus da varíola e das doenças contagiosas.Ele tem,também,o poder de curar.As doenças contagiosas são,na realidade,punições aplicadas àqueles que o ofenderam ou conduziram-se mal.Seu verdadeiro nome,é perigoso demais pronunciar.Por prudência,é preferível chamá-lo Obaluaê,O "Rei Senhor da Terra"ou Omulu,o "Filho do Senhor".Quando Xapanã instalou-se entre os mahis,recebeu,em uma nova terra,o nome de Sapatá.Aí também,era preferível chamá-lo Ainon,o "Senhor da Terra",ou,então, Jeholu,o "Senhor das Pérolas".O fato de ser chamado Jeholu e Ainoncausou mal-entendidos entre Sapatá e os reis do Daomé,pois eles também usavam estes títulos.Enciumados,os Jeholu de Abomey expulsaram,várias vezes,Jeholu Ainon do Daomé e obrigaram-no a voltar,transitoriamente,à terra dos mahis.Jeholu Ainon vingou-se:vários reis daomeanos morreram de varíola!
Atotô!