terça-feira, 24 de junho de 2008

LENDA DE OBALUAIE


Obaluaê
Atotô!
Xapanã nasceu em Empê,no território Tapá,também chamado Nupê.Era um guerreiro terrível que,seguido de suas tropas,percorria o céu e os quatro cantos do mundo.Ele massacrava sem piedade aqueles que se opunham à sua passagem.Seus inimigos saíam dos combates mutilados ou morriam de peste.assim,chegou Xapanã em território Mahi,no Daomé.A terra dos mahis abrangia as cidades de Savalu e Dassa Zumê.Quando souberam da chegada iminente de Xapanã,os habitantes desta região,apavorados,consultaram um adivinho.E assim ele falou:"Ah! O grande guerreiro chegou de Empê!Aquele que se tornará o senhor do país!Aquele que tornará esta terra rica e próspera,chegou!Se o povo não aceitá-lo,ele o destruirá!É necessário que supliquem a Xapanã que vos poupe.Façam-lhe muitas oferendas; todas as que ele goste:inhame pilado,feijão,farinha de milho,azeite de dendê,picadinho de carne de bodee muita,muita pipoca!Será necessário,também,que todos se curvem diante dele,que o respeitem e o sirvam.Desde que o povo o reconheça como pai,Xapanã não o combaterá,mas protegerá a todos!"Quando Xapanã chegou,conduzindo seus ferozes guerreiros,os habitantes de Savalu e Dassa Zumê reverenciaram-no,encostando suas testas no chão,e saudaram-no:Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô!"Respeito e submissão!"Xapanã aceitou os presentes e as homenagens,dizendo:"Está bem! Eu os pouparei!Durante minhas viagens,desde Empê,minha terra natal,sempre encontrei desconfiança e hostilidade.Construam para mim um palácio.É aqui que viverei à partir de agora!"Xapanã instalou-se assim entre os mahis.O país prosperou e enriqueceu,e o grande guerreiro não voltou mais a Empê,no território Tapá,também chamado Nupê.Xapanã é considerado o deus da varíola e das doenças contagiosas.Ele tem,também,o poder de curar.As doenças contagiosas são,na realidade,punições aplicadas àqueles que o ofenderam ou conduziram-se mal.Seu verdadeiro nome,é perigoso demais pronunciar.Por prudência,é preferível chamá-lo Obaluaê,O "Rei Senhor da Terra"ou Omulu,o "Filho do Senhor".Quando Xapanã instalou-se entre os mahis,recebeu,em uma nova terra,o nome de Sapatá.Aí também,era preferível chamá-lo Ainon,o "Senhor da Terra",ou,então, Jeholu,o "Senhor das Pérolas".O fato de ser chamado Jeholu e Ainoncausou mal-entendidos entre Sapatá e os reis do Daomé,pois eles também usavam estes títulos.Enciumados,os Jeholu de Abomey expulsaram,várias vezes,Jeholu Ainon do Daomé e obrigaram-no a voltar,transitoriamente,à terra dos mahis.Jeholu Ainon vingou-se:vários reis daomeanos morreram de varíola!
Atotô!

LENDA DE OXUMARE


Oxumaré
Arrobo Boi!
Oxumaré era, antigamente, um adivinho (babalaô).O adivinho do rei Oni.Sua única ocupação era ir ao palácio real no "dia do segredo";dia que dá início à semana de quatro dias dos iorubas.O rei Oni não era um rei generoso.Ele dava apenas, a cada semana,uma quantia irrisória a Oxumaré que,por esta razão, vivia na miséria com a sua família.O pai de Oxumaré tinha um belo apelido.Chamavam-no "o proprietário do xale de cores brilhantes".Mas, tal como seu filho, ele não tinha poder.As pessoas da cidade não o respeitavam.Oxumaré, magoado com esta triste situação, consultou Ifá."Como tornar-se rico, respeitado,conhecido e admirado por todos?"Ifá o aconselhou a fazer oferendas.Disse-lhe que oferecesseuma faca de bronze, quatro pombos equatro sacos de búzios da costa.No momento que Oxumaré fazia estas oferendas,o rei mandou chamá-lo.Oxumaré respondeu:"Pois não, chegarei tão logo tenha terminado a cerimônia".O rei, irritado pela espera, humilhou Oxumaré,recriminou-o e negligenciou, até,a remessa de seus pagamentos habituais.Entretanto, voltando à sua casa,Oxumaré recebeu um recado:Olokum, a rainha de um país vizinho, desejava consultá-loa respeito de seu filho, que estava doente.Ele não podia manter-se de pé, caía,rolava no chão e queimava-se nas cinzas do fogareiro.Oxumaré dirigiu-se à corte da rainha Olokume consultou Ifá para ela.Todas as doenças da criança foram curadas.Olokum, encantada com este resultado,recompensou Oxumaré.Ela ofereceu-lhe uma roupa azul, feita de um rico tecido.Ela deu-lhe muitas riquezas, servidores e um cavalo,com o qual Oxumaré retornou à sua casa, em grande estilo.Um escravo fazia rodopiar um guarda-sol sobre a sua cabeçae músicos cantavam seus louvores.Oxumaré foi saudar o rei.O rei Oni ficou surpreso e disse-lhe:"Oh! De onde viestes?De onde saíram todas estas riquezas?"Oxumaré respondeu-lhe a rainha Olokum o havia consultado."Ah! Foi então Olokum que fez tudo isto por você!"Estimulado pela rivalidade,o rei Oni ofereceu a Oxumaré uma roupa do mais belo vermelho,acompanhada de muitos outros presentes.Assim, Oxumaré tornou-se rico e respeitado.Entretanto, Oxumaré era amigo de Chuva.Quando Chuva reunia as nuvens,Oxumaré agitava sua faca de bronzee a apontava em direção ao céu,como se riscasse de um lado a outro.O arco-íris aparecia e Chuva fugia.Todos gritavam: "Oxumaré apareceu!"Oxumaré tornou-se muito célebre.Nesta época, Olodumaré o deus supremo,aquele que estende a esteira real em casae caminha na chuva,começou a sofrer da vista e nada mais enxergava.Ele mandou chamar Oxumarée o mal dos seus olhos foram curados.Depois disto, Olodumaré não deixou mais que Oxumaré retornasse à Terra.Desde este dia, é no céu que ele morae só tem permissão de visitar a Terra a cada três anos.É durante estes anos que as pessoas tornam-se ricas e prósperas.

LENDA DE EWA


VConta uma lenda, que Yewá era esposa de Omulu, e era estéril, não podendo conceder um filho ao seu grande amado, sofrendo muito por isso.Numa bela tarde, a dona dos horizontes, estava a deleitar-se nas margens de um rio, juntamente com as suas serviçais que lavavam vários Alás (panos brancos). De repente, surge de dentro da floresta a figura de uma pessoa, que corria muito e muito assustado.- Como ousas interromper o deleite da mulheer de Omulu? Quem é você ? - indagou Yewá, sobre a irreverência do rapaz.- Ewa ! não era minha intenção interromper tão sagrado acto, oh esposa de Omulu ! Porém Ikú (a morte), persegue-me há vários dias e preciso escapar dela, pois tenho ainda um grande destino a seguir. Peço sua ajuda Yewá, peço que me escondas para que Ikú não me pegue ?!- Gostei de você e vou ajudá-lo. Esconda-see sob os Alás que minhas serviçais estão a lavar, e eu despistarei Ikú de seu caminho.E assim foi feito. O jovem rapaz enfiou-se sob os panos brancos, a esconder-se de Ikú.Alguns minutos se passaram, e eis que aparece Ikú. A morte !- Como ousas adentrar nos domínios de minhaa morada? Quem es tu ? - pergunta Ewa com ar de indignada.- Sou Ikú, e entro onde as pessoas menos essperam, entro e carrego comigo, dezenas, centenas e até milhares de pessoas ! Porém hoje estou a procurar um jovem rapaz, que está a escapar-me há dias. Você o viu passar por aqui ? - perguntou Ikú para Yewá.- Eu o vi sim Ikú, ele foi naquela direcçãoo. - Ewa apontava para uma direcção totalmente oposta ao das suas aldeãs, que estavam a esconder o jovem rapaz.Ikú agradeceu e seguiu pelo caminho indicado.Sendo assim, o rapaz pode sair do seu esconderijo e agradeceu a Yewá.- Ewa, agradeço sua ajuda, terei tempo agorra, de prosseguir meu caminho. Sou um grande adivinho, e em sinal de minha gratidão, a partir de hoje presenteio-lhe com o dom da adivinhação.Ewa, agradeceu o presente dado pelo rapaz, que já havia se virado para ir embora, quando retornou e falou a Yewá:- Sim eu sei, você não pode ter filhos, poiis lhe dou isso também. A partir de hoje, poderá ter filhos e alegrar ao seu marido.Então Yewá, agradeceu novamente muito contente e perguntou ao jovem rapaz:- Qual é seu nome ? E o rapaz respondeu:- Meu nome é Ifá !

LENDA DE NANA


VIII Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o òrìsà tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã.Oxalá criou o homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos òrìsà povoou a Terra. Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que voltar à terra, voltar à natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no começo mas quer de volta no final tudo o que é seu.Lenda concedida por: Reginaldo Prandi - Professor de Sociologia da USP

segunda-feira, 23 de junho de 2008

LENDA DE LOGUN


INo início dos tempos, cada orixá dominava um elemento da natureza, não permitindo que nada, nem ninguém, o invadisse. Guardavam sua sabedoria como a um tesouro.É nesse contexto que vivia a mãe das água doces, Oxun, e o grande caçador Odé. Esses dois orixás constantemente discutiam sobre os limites de seus respectivos reinados, que eram muito próximos.Odé ficava extremamente irritado quando o volume das águas aumentavam e transbordavam de seus recipientes naturais, fazendo alagar toda a floresta. Oxun argumentava, junto a ele, que sua água era necessária à irrigação e fertilização da terra, missão que recebera de Olorun. Odé não lhe dava ouvidos, dizendo que sua caça iria desaparecer com a inundação.Olorun resolveu intervir nessa guerra, separando bruscamente esses reinados, para tentar apaziguá-los.A floresta de Odé logo começou a sentir os efeitos da ausência das águas. A vegetação, que era exuberante, começou a secar, pois a terra não era mais fértil. Os animais não conseguiam encontrar comida e faltava água para beber. A mata estava morrendo e as caças tornavam-se cada vez mais raras. Odé não se desesperou, achando que poderia encontrar alimento em outro lugar.Oxun, por sua vez, sentia-se muito só, sem a companhia das plantas e dos animais da floresta, mas também não se abalava, pois ainda podia contar com a companhia de seus filhos peixes para confortá-la.Odé andou pelas matas e florestas da Terra, mas não conseguia encontrar caça em lugar algum. Em todos os lugares encontrava o mesmo cenário desolador. A floresta estava morrendo e ele não podia fazer nada.Desesperado, foi até Olorun pedir ajuda para salvar seu reinado, que estava definhando. O maior sábio de todos explicou-lhe que a falta d’água estava matando a floresta, mas não poderia ajudá-lo, pois o que fez foi necessário para acabar com a guerra. A única salvação era a reconciliação.Odé, então, colocou seu orgulho de lado e foi procurar Oxun, propondo a ela uma trégua. Como era de costume, ela não aceitou a proposta na primeira tentativa. Oxun queria que Odé se desculpasse, reconhecendo suas qualidades. Ele, então, compreendeu que seus reinos não poderiam sobreviver separados, unindo-se novamente, com a benção de Olorun.Dessa união nasceu um novo orixá, um orixá príncipe, Logun-Edé, que iria consolidar esse "casamento", bem como abrandar os ímpetos de seus pais. Logun sempre ficou entre os dois, fixando-se nas margens das águas, onde havia uma vegetação abundante. Sua intervenção era importante para evitar as cheias, bem como a estiagem prolongada. Ele procurava manter o equilíbrio da natureza, agindo sempre da melhor maneira para estabelecer a paz e a fertilidade.

LENDA DE OGUN


IDE COMO OGÚN OFERECEU À SUA ESPOSA OYA SEU AKORO (Ìyá Sandra Medeiros Epega - Texto extraído do site "JORNAL TAMBOR) Ògún, o ferreiro de Ire, gostava de sua liberdade. Morava na forja, na última rua da cidade, com sua esposa Oyá, que o ajudava. Sua casa não tinha porta ou janela e o tecto era formado pelas folhas de mariwo, que impediam a chuva e o excesso de sol de incomodá-lo. Ele via os amigos passarem na rua e os saudava com um aceno. Era considerado homem importante, e fora presenteado pela comunidade com um "akoro", pequena coroa de metal que usava com muito orgulho. Pedira ao seu irmão Ode, o caçador, também chamado Osóòssi, que caçasse para ele um enorme touro selvagem que vivia por perto. Tratou o couro do animal e fez dele um enorme fole. Sua esposa Oyá manejava o fole o dia todo, enquanto ele trabalhava na forja, com o calor em seu rosto. E quem passava naquela rua ouvia a música que saia da forja: "Wuuush", fazia o fole. "Lakaiye, lakaiye", ecoavam a bigorna e o martelo. Havia muito trabalho e Ògún e Oyá não paravam nunca.Uma família resolveu certo dia realizar uma festa para o velho Pai que morrera no ano anterior. Contrataram a Sociedade Egungun da aldeia, cerimónias de propiciação foram feitas pelos Sacerdotes, e o Egungun do velho Pai passeou todo o dia pela cidade, com a família e os amigos atrás, felizes de rever seu Pai de volta ao mercado, tomando sol na praça, andando na estrada, entrando nas casas, brincando e conversando com todos. Bem mais tarde, Egungun passou pela forja, para rever seu amigo ferreiro. E, ao ouvir a música que saia de lá, pôs-se a dançar na rua. Todos ao seu redor riam e gritavam de alegria, Ògún acelerava os movimentos, e o "Lakaiye, lakaiye" saia mais forte. Oyá manejava rapidamente o fole, e ouvia-se "Wuuush, wuuush, wuuush", quase sem parar. O povo aplaudia aquela música e cada vez mais juntava gente ao redor da forja. Ògún estava muito orgulhoso de sua mulher. Ela realmente era muito forte, tinha bom ritmo, sabia como transformar seu fole em um instrumento musical, e com isso encantara e dominara a Egungun, tido como difícil de lidar. A noite caiu e Egungun ainda dançava na rua. Ògún disse a Oyá que largasse o fole e fosse dançar com Egungun. Ele ao mesmo tempo manejaria o fole e bateria o martelo. E por horas e horas, Oyá e Egungun dançaram e alegraram o povo de Ire. Ògún então tirou seu akoro da cabeça e presenteou com ele sua esposa Oyá, dizendo à ela: "Oyá, iyawo mi, akoro mi lonoon."( Oyá, minha esposa, use meu akoro na rua). E a partir de então, Oyá teve o direito de usar um akoro de metal na cabeça, direito este que conserva até hoje, na velha Mãe África e no novo mundo, sendo a única ayaba que pode fazê-lo, uma vez que seu marido Ògún Alakoro ( o dono do akoro), a autorizou a isto.Oyá ficou conhecida então como "aquela que usa akoro na rua", "aquela que faz Egungun dançar com a música da forja", "a Mãe que dança com o filho toda a noite sem se cansar", "a poderosa Mãe que conseguiu cansar Egungun", "mulher de Orixá Ògún que recebeu dele o akoro e com ele divide os poderes sobre a forja", "a que tem akoro e o usa na rua, sem que seu dinheiro tenha sido gasto para isso".AXÉ, AXÉ, AXÉ!

LENDA DE YEMONJA


Iemanjá
Odô Iyá Yemanjá Ataramagbá,ajejê Lodô, ajejê nilê!
Iemanjá era a filha de Olokun, a deuda do mar.Em Ifé, ela tornou-se a esposa de Olofin-Odudua,com o qual teve dez filhos.Estas crianças receberam nomes simbólicos e todos tornaram-se orixás.Um deles foi chamado Oxumaré, o Arco-Íris,"aquele-que-se desloca-com-a-chuva-e-revela-seus-segredos."De tanto amamentar seus filhos, os seios de Iemanjá tornaram-se imensos.Cansada da sua estadia em Ifé,Iemanjá fugiu na direção do "entardecer-da-terra",como os iorubas designam o Oeste, chegando a Abeokutá.Ao norte de Abeokutá, vivia Okere, rei de Xaki.Iemanjá continuava muito bonita.Okere desejou-a e propôs-lhe casamento.Iemanjá aceitou mas, impondo uma condição, disse-lhe:"Jamais você ridicularizará da imensidão dos meus seios."Okere, gentil e polido, tratava Iemanjá com consideração e respeito.Mas, um dia, ele bebeu vinho de palma em excesso.Voltou para casa bêbado e titubeante.Ele não sabia mais o que fazia.Ele não sabia mais o que dizia.tropeçando em Iemanjá, esta chamou-o de bêbado e imprestável.Okere, vexado, gritou:"Você, com seus seios compridos e balançantes!Você, com seus seios grandes e trêmulos!"Iemanjá, ofendida, fugiu em disparada.Certa vez, antes do seu primeiro casamento,Iemanjá recebera de sua mãe, Olokun,uma garrafa contendo uma poção mágica pois, dissera-lhe esta:"Nunca se sabe o que pode acontecer amanhã.Em caso de necessidade, quebre a garrafa, jogando-a no chão."Em sua fuga, Iemanjá tropeçou e caiu.A garrafa quebrou-se e dela nasceu um rio.As águas tumultuadas deste rio levaram Iemanjá em direção ao oceano,residência de sua mãe Olokun.Okere, contrariado, queria impedir a fuga de sua mulher.Querendo barrar-lhe o caminho, ele transformou-se numa colina,chamada ainda hoje, Okere, e colocou-se no seu caminho.Iemanjá quis passar pela direita, Okere deslocou-se para a direita.Iemanjá quis passar pela esquerda, Okere deslocou-se para a esquerda.Iemanjá, vendo assim bloqueado seu caminho para a casa materna,chamou Xangô, o mais poderoso dos seus filhos.Kawo Kabiyesi Sango, Kawo Kabiyesi Obá Kossô!"Saudemos o Rei Xangô, saudemos o Rei de Kossô!"Xangô veio com dignidade e seguro do seu poder.Ele pediu uma oferenda de um carneiro e quatro galos,um prato de "amalá", preparado com farinha de inhame,e um prato de "gbeguiri", feito com feijão e cebola.E declarou que, no dia seguinte, Iemanjá encontraria por onde passar.Nesse dia, Xangô desfez todos os nós que prendiam as amarras sa chuva.Começaram a aparecer nuvens dos lados da manhã e da tarde do dia.Começaram a aparecer nuvens da direita e da esquerda do dia.Quando todas elas estavam reunidas, chegou Xangô com seu raio.Ouviu-se então: Kakará rá rá rá...Ele havia lançado seu raio sobre a colina Okere.Ela abriu-se em duas e, suichchchch...Iemanjá foi-se para o mar de sua mãe Olokun.Aí ficou e recusa-se, desde então, a voltar em terra.Seus filhos chamam-na e saúdam-na:"Odô Iyá, a Mãe do rio, ela não volta mais.Iemanjá, a rainha das águas, que usa roupas cobertas de pérolas."Ela tem filhos no mundo inteiro.Iemanjá está em todo lugar onde o mar vem bater-se com suas ondas espumantes.Seus filhos fazem oferendas para acalmá-la e agradá-la.Odô Iyá, yemanjá, AtaramagbáAjejê lodô! Ajejê nilê!"Mãe das águas, Iemanjá, que estendeu-se ao longe na amplidão.Paz nas águas! Paz na casa!"

domingo, 22 de junho de 2008

LENDA DE YANSÃ


Iansã
Êpa Heyi!
Ogum foi um dia caçar na floresta.Ele ficou na espreita e viu um búfalo vindo em sua direção.Ogum avaliou logo a distância que os separavae preparou-se para matar o animal com a sua espada.Mas viu o búfalo parar e, de repente,baixar a cabeça e despir-se de sua pele.Desta pele saiu uma linda mulher.Era Iansã, vestida com elegância, coberta de belos panos,um turbante luxuoso amarrado à cabeçae ornada de colares e braceletes.Iansã enrolou sua pele e seus chifres,fez uma trouxa e escondeu num formigueiro.Partiu, em seguida, num passo leve, em direção ao mercado da cidade,sem desconfiar que Ogum tinha visto tudo.Assim que Iansã partiu, Ogum apoderou-se da trouxa,foi para casa, guardou-a no celeiro de milhoe seguiu, também, para o mercado.Lá, ele encontrou a bela mulher e cortejou-a.Iansã era bela, muito bela, era a mais bela mulher do mundo.Sua beleza era tal que se um homem a visse, logo a desejaria.Ogum foi subjugado e pediu-a em casamento.Iansã apenas sorriu e recusou sem apelo.Ogum insistiu e disse-lhe que a esperaria.Ele não duvidava de que ela aceitasse sua proposta.Iansã voltou à floresta e não encontrou seu chifre nem sua pele."Ah! Que contrariedade! Que teria se passado? Que fazer?"Iansã voltou ao mercado, já vazio, e viu Ogum que a esperava.Ela perguntou-lhe o que ele havia feito daquilo que ela deixara no formigueiro.Ogum fingiu inocência e declarou que nada tinha a ver,nem com o formigueiro, nem com o que estava nele.Iansã não se deixou enganar e disse-lhe:"Eu sei que você escondeu minha pele e meu chifre.Eu sei que você se negará a me revelar o esconderijoOgum, vou me casar com você e viver em sua casa.Mas, existem certas regras de conduta para comigo.Estas regras devem ser respeitadas, também, pelas pessoas da sua casa.Ninguém poderá me dizer: Você é um animal!Ninguém poderá utlizar cascas de dendê para fazer fogo.Ninguém poderá rolar um pilão pelo chão da casa".Ogum respondeu que havia compreendido e levou Iansã.Chegando em casa, Ogum reuniu suas outras mulheres eexplicou-lhes como deveriam comportar-se.Ficara claro para todos que ninguém deveria discutir com Iansã,nem insultá-la.A vida organizou-se.Ogum saía para caçar ou cultivar o campo.Iansã, em vão, procurava sua pele e seus chifres.Ela deu à luz a uma criança, depois um a segunda e uma terceira...Ela deu à luz a nove crianças.Mas as mulheres viviam enciumadas da beleza de Iansã.Cada vez mais enciumadas e hostis,elas decidiram desvendar o mistério da origem de Iansã.Uma delas conseguiu embriagar Ogum com vinho de palma.Ogum não pôde mais controlar suas palavras e revelou o segredo.Contou que Iansã era, na realidade, um animal;que sua pele e seus chifres estavam escondidos no celeiro de milho.Ogum recomendou-lhes ainda:"Sobretudo não procurem vê-los, pois isto a amedrontará.Não lhes digam jamais que é um animal!"Depois disso, logo que Ogum saía para o campo,as mulheres insultavam Iansã:"Você é um animal! Você é um animal!!"Elas cantavam enquanto faziam os trabalhos da casa:"Coma e beba, pode exibir-se, mas sua pele está no celeiro de milho!"Um dia, todas as mulheres saíram para o mercado.Iansã aproveitou-se e correu para o celeiro.Abriu a porta e, bem no fundo, sob grandes espigas de milho,encontrou sua pele e seus chifres.Ela os vestiu novamente e se sacudiu com energia.Cada parte do seu corpo retomou exatamente seu lugar dentro da pele.Logo que as mulheres chegaram do mercado, ela saiu bufando.Foi um tremendo massacre, pelo qual passaram todas.Com grandes chifradas Iansã rasgou-lhes a barriga,pisou sobre os corpos e redou-os no ar.Iansã poupou seus filhos que a seguiam chorando e dizendo:"Nossa mãe, nossa mãe! É você mesma?Nossa mãe, nossa mãe!! Que você vai fazer?Nossa mãe, nossa mãe!!! Que será de nós?"O búfalo os consolou, roçando seu corpo carinhosamente no deles e dizendo-lhes:"Eu vou voltar para a floresta; lá não é um bom lugar para vocês.Mas, vou lhes deixar uma lembrança."Retirou seus chifres, entregou-lhes e continuou:"Quando qualquer perigo lhes ameaçar,quando vocês precisarem dos meus conselhos,esfreguem estes chifres um no outro.Em qualquer lugar que vocês estiverem,em qualquer lugar que eu estiver,escutarei suas queixas e virei socorrê-los."Eis porque dois chifres de búfalo estão sempre no altar de Iansã.

sábado, 21 de junho de 2008

LENDA DE OXALUFÃ


Oxalá era marido de Nanã, senhora do portal da vida e da morte. E por determinação dela, somente os seres femininos tinham acesso ao portal, não permitindo aproximação de seres masculinos em hipótese alguma. Determinação que servia também para Oxalá, que com o passar do tempo não se conformava com esta decisão, não só por ser marido de Nanã, como por sua própria importância no panteão dos orixás. Assim pensou até que encontrou uma forma de burlar as determinações de sua esposa. Não fugindo de sua cor branca, vestiu-se de mulher, colocou o adê (coroa) com os chorões no rosto, próprio das yabás e aproximou-se no portal satisfazendo enfim sua curiosidade. Foi pego, porém, por Nanã no exacto momento em que via o outro lado da dimensão. Nanã aproximou-se e determinou:- "Já que tu, meu marido, vestiste-te de mulher para desvendar um segredo tão importante, vou compartilhá-lo contigo. Terás, então, a incumbência de ser o princípio do fim, aquele que tocará o cajado três vezes ao solo para determinar o fim de um ser. Porém, jamais conseguirás te desfazer das vestes femininas e, daqui para frente terás todas as oferendas fêmeas!".E Oxalá passou a comer não mais como os demais santos aborós (homens), mas sim cabras e galinhas como as yabás. E jamais se desfez das vestes de mulher. Em compensação, transformou-se no senhor do princípio da morte e conheceu todos os seus segredos.

LENDAS DE OXALUFÃ


IOxalufã ( a versão velha de Oxalá ) era um rei muito idoso que andava com dificuldade, apoiado em seu cajado, o opaxorô. Um dia, sentindo saudades do filho Xangô, resolveu visitá-lo. Como era costume na terra dos orixás, consultou um babalaô para saber como seria a viagem. Este recomendou que não viajasse. Mas, como o orixá teimasse em ver o filho, foi instruído a levar três roupas brancas e limo da costa ( pasta extraída do caroço de dendê) e fazer tudo o que lhe pedissem.Com essas precauções, o orixá partiu e, no meio do caminho, encontrou Exu Elepô, dono do azeite-de-dendê, sentado a beira da estrada, com um pote ao lado. Com boas maneiras, ele pediu a Oxalufã que o ajudasse a colocar o pote nos ombros. O velho orixá, lembrando as palavras do babalaô, resolveu auxiliá-lo; mas Exu Elepô, que adora brincar. Derramou todo o dendê sobre Oxalufã.O orixá manteve a calma, limpou-se no rio com um pouco do limo, vestiu outra roupa e seguiu viagem. Mais adiante encontrou Exu Onidu, dono do carvão, e Exu Aladi, dono do óleo do caroço de dendê. Por duas vezes mais foi vitima dos brincalhões e procedeu como da primeira vez, limpando-se e vestindo roupas limpas, continuando sua caminhada rumo ao reino de Xangô.Ao se aproximar das terras do filho, avistou um cavalo que conhecia muito bem, pois presenteara Xangô com o animal tempos atras. Resolveu amarrá-lo para levá-lo de volta, mas foi mal interpretado pelos soldados, que julgaram-no um ladrão. Sem permitir explicações, eles espancaram o velho ate quebrar seus ossos e o arrastaram para a prisão. Usando seus poderes, Oxalá fez com que não chovesse mais desse dia em diante; as colheitas foram prejudicadas e as mulheres ficaram estéreis.Preocupado com isso, Xangô consultou seu babalaô e este afirmou que os problemas se relacionavam a uma injustiça cometida sete anos antes, pois um dos presos fora acusado de roubo injustamente. O orixá dirigiu-se a prisão e reconheceu o pai. Envergonhado, ordenou que trouxessem água para limpá-lo e, a partir desse dia, exigiu que todos no reino se vestissem de branco em sinal de respeito ao pai, como forma de reparar a ofensa cometida. É por isso que em todos os terreiros do Brasil comemora-se as Águas de Oxalá, cerimonia na qual todos os participantes vestem-se de branco e limpam seus apetrechos com profunda humildade para atrair a boa sorte para o ano todo.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

ORIXA OKO - ORIXÁ DA AGRICULTURA


ORIXÀ OKO
Quando o mundo foi criado, ainda não existia nada plantado. Aqui morava um homem que nada fazia. Este homem se chamava Oko, o nome que ele tinha recebido do grande criador. Um dia, Olorum chamou este velho e lhe disse:- Olha, eu criei o mundo, porém, faltam as plantações, e eu não sei com fazê-las, como plantar. Você vai ser incumbido desta tarefa.
Oko ficou sentado no chão, pensando:
Que grande incumbência Olorum me deu! O que eu vou fazer? Pensou, pensou, e aí se lembrou de que nas suas andanças pelas estradas tinha encontrado uma palmeira, e que embaixo dessa palmeira sempre tinha uns molequinho. Esse moleque era muito sapeca e muito sagaz, com um corpo bem reluzente. Ele estava sempre com um pedaço de pau mexendo na terra. Oko se lembrou de que um dia ele perguntou a esse rapazinho:
- Que estás a fazer?
E o rapaz lhe respondeu:
Você não sabe que a terra mexida e plantada dá frutos?
Plantada como? – perguntou Oko.
- É... A gente arruma semente, e tudo isso...
- Como arruma semente, se ainda não existe arvore, não existe nada? – interrompeu Oko. O molequinho lhe disse:
- Olhe que prá Olorum nada é difícil!
Oko ficou admirado com as palavras daqueles molequinho. Quando Olorum lhe deu essa empreitada, ele logo se lembrou de molequinho.
Voltou ao mesmo lugar e encontrou o molequinho sentado embaixo da palmeira, cavando terra. O buraco já estava maior, e daquele buraco já estava saindo uma terra mais avermelhada. Oko perguntou ao menino:
- Porque esta terra está saindo mais vermelha?
- É sinal de que algo de diferente existe nas profundezas da terra. Você vê que eu estou cavando e aqui em cima a terra é mais seca; agora, esta outra parte, é mais molhada, e agora já está saindo uma parte mais densa, mais dura – respondeu o menino, mostrando a terra a Oko.
- Continue a cavar – falou Oku.
Mas enquanto o menino estava cavando, a madeirazinha que ele estava usando quebrou. Ele aí pelejou, esfregou no chão, e fez uma ponta na madeira. O menino estava descobrindo naquele momento uma ferramenta na hora em que ele raspou a madeira no chão. E com ela ele recomeçou a cavar juntos e tiraram uma lasca dessa terra, que era a pedra. Oko disse:
- Vamos fazer algo para a gente cavar a terra. Vamos ver se conseguimos qualquer coisa com aquela lasca de pedra.
O molequinho continuou a trabalhar e Oko lhe disse:
- Eu vou me embora, você veja se sozinho consegue pensar em algo mais útil para nós trabalharmos.
E foi embora, foi embora, foi embora. Foi andando e matutando pelo caminho.No outro dia quando Oko voltou, o molequinho estava com o fogo aceso e com vários pedaços daquela pedra de fogo. Quando o moleque fez aquele fogo, ele fez também um canal saindo de dentro do fogo. No que as tais pedras iam de derretendo iam escorrendo e o menino ia formando lâminas. Assim foi criado o ferro. E sabe quem era esse molequinho? Era Ogum, o criador do ferro. Daí em diante, Orixá Oko, o grande rezador e plantador, com suas idéias sobre plantação, colheita e lavoura , e Ogum, com as suas ferramentas para ajudar a cavar a terra, o arado, o machado, a foice e a enxada, continuaram a trabalhar juntos nas plantações que têm grande importância na criação do mundo.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

CANDOMBLÉ MESMO É COZINHA



“Candomblé mesmo é cozinha...”

Dentro do universo do Candomblé, a cozinha merece uma atenção especial, por ser um dos espaços onde se passa e se constitui o sagrado. Tudo nela remete a esta dimensão. Assim, “A cozinha de santo” aparece sempre como algo distinto, separado da cozinha do dia a dia. Separada na sua grande maioria, não por limites externos, mas internos que são representados por mudanças de atitude, ações, formas de uso, etc.
Em muitos terreiros de Candomblé, o local onde são preparadas as comidas dos Orixás é o mesmo onde são feitas as comidas do dia a dia. Esta separação, todavia é realizada de forma bastante visível e determinada. Muitas vezes se reserva para as comidas de santo um fogão especial que pode ser de lenha ou industrial, enquanto a outra permanece num fogão menor. Comum é se trocar de horários. É muito difícil se mexer com as panelas dos Orixás ao lado de outras panelas, bem como misturar os utensílios destas duas cozinhas.
“ Cozinha do santo” é, assim, mais que um lugar determinado que, em terreiros de estrutura maior, os mais antigos, se tem para preparar somente os pratos dos Orixás e, sim, um espaço criado e redefinido a cada momento, no terreiro, através da separação dos objetos, utensílios e mudanças de comportamento. Tudo participa do sagrado: o espaço em si , as panelas, travessas, pratos, bacias, cestos, peneiras, colheres de pau, ralos, o pilão, as frigideiras, formas de assar e sobretudo as pessoas que nele transitam.
A cozinha é cheia de interdições como: não conversar mais que o necessário, não falar alto, gritar, cantar ou dançar músicas que não sejam do santo; não entrar pessoas que não sejam iniciadas-dependendo do que se estiver fazendo, somente um número muito restrito-não admitir que mulheres menstruadas permaneçam nela, etc. Neste espaço sacralizado, tudo vai ganhando significado: a bacia que cai, o garfo, a faca, a colher, o óleo que faz fumaçar o fogo, etc. Na cozinha se aprende além do “ponto” certo de determinado prato, que não se dá as costas para o fogo, não se joga sal no chão, não se mexe comida de Orixá com colher que não seja de pau, que a comida mexida por duas pessoas desanda, que não se joga água no fogo e que muitas pessoas por terem o sangue ruim fazem a comida desandar. Ou que a presença de pessoas de um determinado Orixá faz com que uma certa comida não dê certo, como por exemplo: em cozinha onde se tem gente de Xangô o milho de pipoca queima antes de estourar. Pela cozinha, entram as pessoas de maior prestígio na Religião e é nela própria que, em certas ocasiões, muito antes mesmo de se chegar no peji do Orixá, que este é consultado a fim de se saber se a comida foi bem preparada ou não.
Embora marcada por vários limites, a cozinha é mesmo escola mestra, local onde se aprende as lições mais antigas, através do exercício longo e paciente da observação. Local onde permanecem por maior período de tempo os iniciados, seja varrendo, lavando, limpando, guardando, acendendo ou mantendo o fogo, cozinhando, com olhos e ouvidos atentos a tudo que se passa nela. Daí entende-se o dizer corrente: Candomblé mesmo é cozinha!!!” Talvez por ser ela mais que um local de transformação e sim de passagem e transmissão de conhecimento, por onde transita algo essencial que ultrapassa os limites das oposições por situar-se no mais intimo e profundo ser do homem: o comer.

SIGNIFICADO DOS RITMOS TOCADOS NOS BARRACÕES


A presença do ritmo no barracão parece estar associada à dança, que rememora os atributos míticos das divindades. Desse modo, um deus guerreiro, como Ogun, estabelece uma coreografia na qual os movimentos serão ágeis, rápidos e vigorosos, adequando-se ao ritmo executado, diferentemente dos passos lentos, fluidos e ondulantes de Oxum, uma deusa das águas.
"Eu vejo a música como a...representação de expressar a dança do orixá, o preceito, o que ele faz, como ele vive...Como se fosse eu falando da minha vida ou cantando alguma coisa para ele." (Jorge).
Assim, com seus ritmos característicos, cada orixá expressa, na linguagem musical e gestual, suas particularidades, criando uma atmosfera na qual estas se tornam inteligíveis e plenas de sentido religioso. Daí podermos falar dos ritmos mais freqüentes no candomblé em termos do que representam e de sua relação com as entidades às quais homenageiam.
O adarrum é o ritmo mais citado como característico de Ogun. É um ritmo "quente", rápido e contínuo, que pode ser executado sem canto, ou seja, apenas pelos atabaques. Pode, também, ser executado com o objetivo de propiciar o transe. O toque de bolar, por exemplo, se faz ao som do adarrum.
O aguerê é o ritmo de Oxóssi. É acelerado, cadenciado e exige agilidade na dança, do mesmo modo que a caça exige a agilidade do caçador. O ritmo de Obaluaê é o opanijé, um ritmo pesado, "quebrado" (por pausas) e lento. Este ritmo lembra a circunspeção deste deus das epidemias, ligado à terra.
O bravum, embora não seja atribuído especialmente a algum orixá, é freqüentemente escolhido para saudar Oxumarê, Ewá e Oxalá. É um ritmo relativamente rápido, bem dobrado e repicado. A dança preferida de Xangô se faz ao som do alujá, um ritmo quente, rápido, que expressa força e realeza recordando, através do dobrar vigoroso do Rum, os trovões dos quais Xangô é o senhor.
Ijexá, o único ritmo tocado com as mãos no rito Ketu é, por excelência, o ritmo de Oxum. É um ritmo calmo, balanceado, envolvente e sensual, como a deusa da água doce, à qual faz alusão. Ele é tocado ainda para o orixá filho de Oxum, Logun-Edé e, algumas vezes para Exu e para Oxalá.
Para Iansã, divindade dos raios e dos ventos, toca-se o agó, ilu, ou aguerê de Iansã, termos que designam um mesmo ritmo que, de tão rápido, repicado e dobrado, também é conhecido como "quebra-prato". É o mais rápido ritmo do candomblé, correspondendo à personalidade agitada, contagiante e sensual desta deusa guerreira, senhora dos ventos e que tem poder de afastar os espíritos dos mortos (eguns).
Sató, um ritmo vagaroso e pesado, é geralmente tocado para Nanã, considerada a anciã das iabás (orixás femininos).
O batá, talvez um dos ritmos mais característicos do candomblé, pode ser tocado em duas modalidades: batá lento e batá rápido, sendo o primeiro executado para os orixás cuja dança comedida denota certas características de suas personalidades, como a dança de Oxalufã, o deus arcado e velho que, com seu paxorô (cajado), criou o mundo. Significativamente, o termo batá, designa também o tambor de duas membranas, afinadas por cordas, cujo uso nos candomblés do Norte e Nordeste do Brasil é tão difundido que talvez por este motivo o ritmo tenha tomado seu nome, ainda quando não executado por este instrumento.
Vamunha é um outro ritmo, também conhecido por: ramonha, vamonha, avamunha, avania ou avaninha, tocado para todos os orixás. É um toque rápido, empolgado e tocado em situações específicas como a entrada e saída dos filhos de santo no barracão e para a retirada do orixá incorporado. É nesse momento que o orixá saúda os pontos de axé da casa e se retira sob a aclamação dos presentes.
Todos os toques (ritmos) acima são característicos do rito Ketu e, conforme procuramos demonstrar, associam letra, melodia e dança que, integrados, "narram" a experiência arquetípica dos orixás, vividas em nível individual e grupal e cujo ápice é o transe. Alguns destes ritmos são tão personalizados dos orixás que podem dispensar as letras ou mesmo a dança como elemento de identificação. É o caso do alujá, do opanijé e do agó (quebra-prato), consagrados a Xangô, Obaluaê e Iansã, respectivamente.