domingo, 3 de agosto de 2008

ILE IFÉ ..... O BERÇO DA TERRA


IIê-Ifé : O Berço Religioso dos Yorubas, de Odùduwà a SàngóIlê-Ifé a origem do Mundo A cidade de Ilê-Ifé é considerada pelos yorubas o lugar de origem de suas primeiras tribos. lfé é o berço de toda religião tradicional yoruba (a religião dos Òrìsà, o Candomblé do Brasil),é um lugar sagrado, onde os deuses al chegaram, criaram e povoaram o mundo e depois ensinaram aos mortais como os cultuarem, nos primórdios da civilização. Ilê-Ifé é o "Berço da Terra"."Em um tempo onde os Deuses e Heróis andavam na terra com os Homens."OlódùmarèOlódùmarè o ser superior dos yorubas, que vive num universo paralelo aonosso, conhecido como Òrún, por isso Ele é também conhecido como Àjàlórúne Olórun "Senhor ou Rei do Òrún", que através dos Òrìsà por Ele criado,resolve incumbir um dos Òrìsà funfun (do branco), Òrínsànlá, (o grandeÒrìsà) o primeiro a ser criado, também chamado de Òrìsà-nlá e de Obàtálá,de criar e governar o futuro Àiyé : a Terra, do nosso universo conhecido.Ele lhe entrega o Àpò-Iwá (a sacola da existência) o qual contém todas ascoisas necessárias para a criação, e é aclamado como Aláàbáláàse, "Senhorque tem o poder de sugerir e realizar". Como a tradição mandava, paratodos, antes de iniciar a viagem ele foi consultar o oráculo de Ifá, comÒrúnmìlà, outro Òrìsà funfun, e este lhe orientou a fazer algunssacrifícios a divindade Èsù, mas se ele já era orgulhoso e prepotente,mais ainda ficou, se recusou e nada fez, mas foi avisado que infortúniospoderiam ocorrer.Òrìsànlá, de posse do Àpò-Iwá, põe-se a caminhar pelo Òrún, para chegar à"porta do espaço", até então um vazio, que viria a ser o Àiyé. Ele é oÒrìsà que usa um cajado ritual conhecida como òpásóró, durante o caminho,com muita sede, ele se defronta com o igi-òpé (árvore do dendêzeiro) e como seu òpásóró, perfura o caule da árvore da qual começa a "jorrar o emu"(vinho de palma), e põe-se a beber, a tal ponto, que cai totalmenteembriagado no pé da palmeira e dorme profundamente. O infortúnio começaacontecer.OdùduwàOutro Òrìsà funfun, o segundo criado por Olódùmarè, por conceito"irmão mais novo" de Òrìsànlá, ficou enciumado, porque Olódùmarè tinhaentregado a Òrìsànlá o Àpò-Iwá, e o estava seguindo pelos caminhos doÒrún, esperando que ele cometesse algum deslize, o que de fato aconteceu.Odùduwà, encontrando-o naquele estado, apodera-se do Àpò-Iwá e leva-o até Olódùmarè, narrando o acontecido, e, por este fato, Olódùmarè delega aOdùduwà o poder de criar o Àiyé e por punição incumbe a Òrìsànlá desomente criar e modelar os corpos dos seres humanos no Òrún, sob suasupervisão e o proíbe terminantemente de nunca mais beber o emu. Odùduwà,então, cumpre a tradição e faz as obrigações, para se tornar o progenitor dos Yorubas, do Mundo : Olófin Odùduwà, o futuro Àjàlàiyé.Desde então a relação tempestuosa entre Odùduwà e Obàtálá se perpetuou,ora em disputas, discórdias, controvérsias e de outras formas, mas sempremunindo a eterna rivalidade.Odùduwà chegando ao Àiyé, cria tudo o que era necessário e delega poderes às divindades que o seguiram, conhecidos como os Àgbà, para governarem a criação, e volta ao Òrún, e só retornaria quando tudo estivesse realmente concluído. Òrìsànlá, que tinha ficado no Òrún com seus seguidores, já tinha moldado corpos suficientes para povoar o inicio do mundo, vai então para o Àiyé, com seus seguidores, os Funfun; fato que ocorre antes da volta de Odùduwà para o Àiyé. Quando Olófin Odùduwà retorna ao Àiyé, funda a cidade de Ilê-Ifé, e vem a ser o primeiro Oba (rei) do povo yorubano com o titulo de "Oba Óòni", ou seja, o primeiro Óòni de Ifé, e a cidade se torna a morada dos deuses e dos novos seres.Durante todo este tempo, Odùduwà que já estava casado com Ìyá Olóòkun,divindade feminina, responsável e dona dos mares, tem dois filhos, oprimogênito, a divindade Ògún e uma filha de nome Ìsèdélè. O tempo passa,e Odùduwà, que era uma divindade negra, porém albina, incumbe seu filhoÒgún de ir para a aldeia de Ògòtún, vizinha de Ifé, conter uma rebelião.Ògún, divindade negra, senhor do ferro, parte para sua missão e realiza ointento, trazendo consigo Lakanje, filha do rebelde vencido. Ora, Lakanjeera espólio de Odùduwà, o Óòni de lfé, portanto intocável, mas Lakanje eramuito bela e extremamente sensual e Ògún não resistiu aos seus encantos ecom ela teve várias noites de amor, durante sua viagem de volta. Chegandoa lfé, ele entrega os espólios da conquista, inclusive Lakanje, a seu paiOdùduwà, que também não resistiu aos lindos encantos da mortal Lakanje epor ela se apaixona e acabaram por casar-se. Ògún nada tinha contado a seupai dos fatos ocorridos e logo após o casamento Lakanje está grávida,desta gravidez nasce um filho de nome Odéde.Só que o destino foi fatídico, Odéde nasceu metade negro, como a pele deÒgún e metade branco, como a pele do albino Odùduwà, revelando assim, atraição de Ògún para com a confiança do seu pai, esta situação gerou muitadiscussão entre Odùduwà e Ògún, mas a principal foi "quem tinha razão",ou, quem teria mais "genes" no filho em comum, Odéde, e cada um seposicionava com a seguinte frase : "a minha palavra triunfou" ou "a minhapalavra é a correta", que aglutinada é Òrànmíyàn e foi assim que elepassou a ser chamado e conhecido.Com Lakanje, uma das muitas esposas de Odùduwà, ou com outras, teve ou já tinha mais seis filhos, outros dizem dezesseis, uns, um número maiorainda, enfim, alguns dos filhos destas esposas, geraram as linhagens dosObas Yorubanos, uns foram os precursores de sete das principais tribos, oumais, que deram origem à civilização dos yorubas, e religiosamentefalando, todos os povos do mundo. Os filhos, netos ou bisnetos de Odùduwà, os deuses, semideuses e/ou heróis, formaram a base da nação yoruba, portanto Olófin Odùduwà Àjàlàiyé é aclamado como "O Patriarca dosYorubas".Obàtálá (Òrìsànlá) ,que também já estava no Àiyé com sua comitiva, masdevido a grande rivalidade com Odùduwà, foi expulso de Ilê-Ifé e funda acidade de Ìgbò e se torna o primeiro Obà Ìgbò chamado também de Bàbá Ìgbò, pai dos ìgbòs. Numa sociedade polígama, Òrìsànlá é um caso raro demonogamia, pois a divindade Yemowo foi sua única esposa e não tiveramfilhos.ÒrànmíyànApós grandes vitórias, Òrànmíyàn torna-se o braço direito de seu pai emIlê-Ifê, pois seus outros irmãos foram povoar regiões distantes, menosObàlùfan Ògbógbódirin. Odùduwà ordena então que Òrànmíyàn conquiste terras ao norte de Ifé, mas Òrànmíyàn não consegue cumprir a tarefa e saiderrotado e, com vergonha de encarar seu pai, não volta mais a Ifé, comisso funda uma nova cidade e lhe dá o nome de Oyó, tornando-se o primeiroOba Aláàfin de Oyó. Casado com Morèmi, uma bela mortal ,nativa de Òfà ,que se tornou mais tarde uma heroína em Ilê-Ifé, da qual tem um filho, que recebe o nome de Ajaká. Após algum tempo, Òrànmíyàn investe em novas conquistas e volta a guerrear contra a Nação dos Tapas, onde havia sido derrotado, mas desta vez consegue uma grande vitória sobre Elémpe, na época rei dos Tapas. Por sua derrota, Elémpe entrega-lhe sua filha Torosí, para que se case com ele. Retornando a Oyó, Òrànmíyàn casa-se com Torosí e com ela tem um filho, chamado de Sàngó, um mortal, nascido de uma mãe mortal e um pai semideus, portanto com ascendentes divinos por parte de pai.Após este período com inúmeras vitórias, a cidade de Oyó torna-se umpoderoso império, Òrànmíyàn, prestigiado e redimido de sua vergonha, voltapara Ilê-Ifé, deixando em seu lugar, em Oyó, o príncipe coroado, seu filhoAjaká, que torna-se o segundo Aláàfin de Oyó.Em uma de suas conquistas, a da cidade de Benin, anterior a fundação deOyó, Òrànmíyàn termina com a dinastia de Ogìso, o então rei, expulsando-oe assumindo o trono, tornando-se o primeiro Obabínín, e inicia suadinastia tendo um filho, chamado Èwékà, com uma mulher do local. Antes dedeixar a cidade, ele torna Èwékà como seu sucessor no trono do Benin.(Atual cidade na Nigéria, antigo Reino do Benin, não confundir com aRepública do Benin, antigo país chamado Daomé.)Durante sua longa ausência em Ilê-Ifé, Obàlùfan Ògbógbódirin ,seu irmãomais velho, se tornou o segundo Óòni de Ifé, após o reinado de Odùduwà.Quando Obàlùfan morreu, e ninguém sabia do paradeiro de Òrànmíyàn, o povo de Ifé aclamou Obàlùfan Aláyémore como sucessor direto de seu pai.Quando Òrànmíyàn chega em Ifé, Obàlùfan Aláyémore já reinava como oterceiro Óòni de Ifé, mas com um fraco reinado. Enfurecido com o povo deIfé que haviam aclamado Aláyémore, e que o tinham chamado para combaterpossíveis inimigos, o poderoso guerreiro colérico ,comete variasatrocidades e só para quando uma anciã grita desesperada que ele estádestruindo seus "próprios filhos", o seu povo. Atônito, ele finca no chãoseu asà (escudo) que imediatamente se transforma em uma enorme laje depedra ,num lugar hoje chamado de "Ìta Alásà" ,e decide ir embora e nuncamais voltar à Ifé.Quando rumava para fora dos arredores de Ifé ,em Mòpá, foi interceptadopelo povo que o saudavam como Óòni de Ifé e suplicavam por sua volta. Eleentão satisfeito e envaidecido ,atende ao povo e finca no chão seu òpá(seu bastão de guerreiro) transformando-o em um monólito de granito (verfoto : Òpá Òrànmíyàn) selando assim o acordo com o povo e volta em umaprocissão triunfante ao palácio de Ifé.Sabendo disso, Obàlùfan Aláyémore abandona o palácio e se exila na cidadede Ìlárá. Òrànmíyàn ascende ao trono e se torna o 4ª Óòni de Ifé até suamorte. Obàlùfan Aláyémore, retorna do exílio e reassume como o 5ª Óòni deIfé e reina deste vez, com sucesso até a sua morte.AjakáO Aláàfin de Oyó, o Oba Ajaká, meio irmão de Sàngó, era muito pacifico,apático e não realizava um bom governo.Sàngó, que cresceu nas terras dos Tapas ( Nupe), local de origem deTorosí, sua mãe, e mais tarde se instalou na cidade de Kòso, mesmorejeitado pelo povo por ser violento e incontrolável, mas sendo tirânico,se aclamou como Oba Kòso. Mais tarde, com seus seguidores, se estabeleceu em Oyó, num bairro que recebeu o mesmo nome da cidade que viveu, Kòso e com isso manteve seu titulo de Oba Kòso. Sàngó percebendo a fraqueza de seu irmão e sendo astuto e ávido por poder, destrona Ajaká e torna-se o terceiro Aláàfin de Oyó.Ajaká, também chamado de Dadá, exilado, sai de Oyó para reinar numa cidade menor, Igboho ,vizinha de Oyó, e não poderia mais usar a coroa real de Oyó. E, com vergonha por ter sido deposto, jura que neste seu reinado vai usar uma outra coroa (ade), que lhe cubra seus olhos envergonhados e que somente irá tira-la quando ele puder usar novamente o ade que lhe foiroubado. Esta coroa que Dadá Ajaká passa a usar, é rodeada por vários fiosornados de búzios no lugar das contas preciosas do Ade Real de Oyó, e estachama-se Ade Bayánni Dadá Ajaká então casa-se e tem um filhoque chama-se Aganju, que vem a ser sobrinho de Sàngó.Sàngó reina durante sete anos sobre Oyó e com intenso remorso das inúmeras atrocidades cometidas e com o povo revoltado, ele abandona o trono de Oyó e se refugia na terra natal de sua mãe em Tapa. Após um tempo, suicida-se,enforcando-se numa árvore chamada de àyòn (àyàn) na cidade de Kòso. Com o fato consumado, Dadá Ajaká volta à Oyó e reassume o trono, retira então o Ade Bayánni e passa a usar o Ade Aláàfin, tornando-se então o quarto Aláàfin de Oyó. Após sua morte, assume o trono seu filho Aganju, neto de Òrànmíyàn e sobrinho de Sàngó, tornando-se o quinto Aláàfin de Oyó.Com Aganju, termina o primeiro período da formação dos povos yoruba e após seu reinado se dá inicio ao segundo período, o dos reis históricos. Vimos : "De Ifé até Oyó, de Odùduwà a Aganju, passando por Sàngó."SàngóO que notamos nesse primeiro período yorubano, é que na realidade, o quese fala de Sàngó, e a sua história nos Candomblés do Brasil, e de outrosacima descritos, é incorreto, levando os fiéis a crer em fatos irreais. Inicialmente, averiguamos que Odùduwà é um Òrìsà funfun masculino e único, é o pai do povo yorubano e não uma simples "qualidade" de Òrìsànlá ou seja, são divindades totalmente distintas, inclusive, não se suportavam,pelos fatos vistos; e que também Ìyá Olóòkun, é um Òrìsà feminino e a Donado Mar, portanto da água salgada, é quem governa os oceanos e não o ÒrìsàYemojá, "Senhora do rio Yemojá e do rio Ògùn", divindade de água doce, emuito menos mãe de Ògún e de outros filhos Òrìsà à ela atribuídos. Notar aacentuação diferente no nome do Òrìsà Ògún e do rio, pois são palavrasdistintas.Quanto a Sàngó, demonstramos que foi um mortal em sua vida no Àiyé,portanto quando morreu, tornou-se um egún, pois seus pais eram mortais. Oque ocorreu em sua vida, foi que uma de suas esposas, e a única que oacompanhou em sua fuga de Oyó, era a divindade Oya, loucamente apaixonada por ele, e no instante de sua morte ela o pega com o seu poder de Òrìsà e o conduz diretamente a Olódùmarè, e por insistência de Oya, Ele o "ressuscita" como uma divindade, já que em vida, Oya, perdida de amores,ensina-lhe vários segredos dos Òrìsà, principalmente o segredo do fogo quepertencia somente a Oya, que ela lhe ensina e lhe dá este poder e outros,por paixão.Esta afirmação é facilmente notada, pois Sàngó é a única divindade dopanteão que é assentada de forma material completamente diferente, isto é,em madeira, numa gamela sobre um pilão, sua roupa ritual é composta devárias tiras de panos, coloridas e soltas, caindo sobre as pernas, quelembra perfeitamente o tipo de roupa usada pelos Bàbá Egúngún (ancestrais) e seu animal preferido para sacrifício é também o mesmo dos egún, dos mortos comum, o carneiro; existe também outras minúcias, que aqui não cabe mencionar.Nos Candomblés, citam Ajaká e Aganju como sendo "qualidades" de Sàngó, que agora sabemos isto não é possível, pois, Ajaká é seu meio irmão e Aganju é filho de Dadá Ajaká, portanto seu sobrinho, notoriamente pessoas mortais e completamente distintas, que fazem parte da família de Sàngó, mas não tiveram a honra de tornarem-se Òrìsà, mas são ancestrais ilustres. Também no Brasil, faz-se uma cerimônia chamada de "Coroa de Dadá" ou "Adê Baiani". que a coroa é levada ritualmente em uma charola durante as festas do ciclo de Sàngó chamada de Banni ou lyamasse, que representa a mãe de Sàngó. Ora, sabemos que quem usou este ade foi, Ajaká, apelidado de Dadá, de quem Sàngó lhe roubou o trono, e que a mãe de Sàngó foi Torosí, filha de Elémpe, rei dos Tapa, e que ela não tem nenhuma importância teológica, somente histórica, por ter sido mãe de um Aláàfin.Não estamos desmerecendo e nem tampouco desprestigiando o Òrìsà Sàngó, somente tentamos elucidar fatos notoriamente conhecidos na terra dos Yorubas, sob os aspectos histórico, através da tradição oral, e divino que se convergem e se conservam na grandiosidade de Sàngó.NOTA* : Os mitos e/ou fatos relatados, são baseados em dados religiosos,por vezes dogmáticos, que pertencem ao corpo da tradição oral yorubana.Sob o ponto de vista cientifico, são considerados parcialmente históricos,pois não são dados comprovados por documentos e nem tampouco pelaarqueologia, que pouco investiu, os "pouquíssimos" artefatos que foramachados e datados pelo carbono 14, são de datas recentes, perto dalongínqua História da Civilização Yoruba. No contraponto, em nenhummomento afirmamos que não exista a História dos Yorubas, isto sim, seriaum absurdo afirmar. A tradição oral pode ser contraditória e a cronologiapraticamente inexistente, pela forma cultural dos yorubas mensurarem otempo, mas jamais poderá ser negligenciada e nem tampouco rejeitada.*Nota do autorAulo Barretti Filho

quarta-feira, 30 de julho de 2008

LENDA DE OLOKUN


Como Olokun se torna a Rainha das Águas
Olokun, senhora das águas, consulta Ifá, numa época em que suas águas não eram bastantes para que alguém nelas lavasse o rosto. Se alguém recolhesse água em seu leito, recolheria, também, areia. Porque ela estava pobre de água.
Olossá, senhora da lagoa, consulta Ifá, numa época em que suas águas não eram bastantes para que alguém nelas, lavasse os pés. Se alguém quisesse com elas lavar os pés, sujar-se-ia de lama e areia. Pois havia, na lagoa, muito pouca água.
Olokun e Ôlossá foram, ambas, aos pés de Orunmilá rogar-lhe examinar os seus casos. Poderiam elas tornar-se as maiores do mundo?
Orunmilá respondeu que se elas pudessem fazer as oferendas que ele escolhera para elas, suas vidas seriam um sucesso. Ele disse que Olokun deveria oferecer duzentas cobertas pretas, duzentas cobertas brancas, um carneiro e vinte e seis mil búzios da costa. Depois ele recomendou a Olossá que fizesse o mesmo. Olokun fez as oferendas. Ela empregou tudo o que possuía. Ela chegou a empregar-se, como serva, para completar as oferendas.
Olossá fez também as oferendas com tudo o que possuía. Mas suas oferendas não foram completas, porque ela não encontrou onde se empregar.
Oxum, o rio, elegante senhora do pente de coral, consultou Ifá no dia em que ia conduzir todos os rios.
Os rios não sabiam em que direcção seguir.
Eles correriam para a frente ou para trás?
E haviam pedido o conselho de Oxum.
Ifá respondeu: "Tu, Oxum, vais a um certo lugar e, neste lugar, serás muito bem recebida. Os outros rios te seguirão. Nenhum outro poderá proceder-te em nenhum lugar onde estejas presente."
Oxum reuniu todos os rios, e os rios seguiram todos juntos. Quando chegaram à beira da Lagoa (osa) eles a cobriram completamente, quando deixaram a lagoa, eles cobriram completamente o mar (okun). Foi colocada a questão quem seria a rainha das águas.
Olokun declarou: "O território onde vocês se encontram é meu!"
Eles discutiam aqui e ali. Olodumaré manifestou-se então: "A que possui o território é a rainha!"
Olokun foi por direito a rainha. Olossá disse aos rios que se retirassem das suas terras, mas os rios não encontraram saída por onde passar. Assim, Olossá foi eleita segunda pessoa de Olokun. A cada ano, todos os rios vêm adorá-la.
Foi assim que Olokun e Olossá se tornaram populares na Terra e famosas no mundo dos Deuses.

OLOKUN


OLOKUN, orixá de grande importância, ainda pouco conhecido no Brasil, porém muito difundido e cultuado na Nigéria.
As crenças, em geral, são fundamentadas em algo original ou histórico; na África existem inúmeras. Diz-se que OLODUMARÉ vagava pelo espaço, quando somente havia pedras e fogo. Em função do vapor produzido pelas chamas, grande quantidade de nuvens se acumulou no espaço, precipitando sob a forma de chuva. Onde o fogo havia queimado mais, o terreno ficou mais profundo, dando origem aos grandes oceanos que cercam a terra. Neste momento, nascem todas as YEMANJÁS do mar, desde OCUTÉ até OLOKUN, que é a mais alta representação dos orixás, depois de ODUDUWA.
Quando o mundo se formou, existia maior quantidade de água do que de terra e, por isso, OLOKUN ocupa o segundo lugar no panteão yorubá. Esta divindade, também, é conhecida pelo nome de AAGANA-EKUN IJÁ MOAJÉ, que significa “a profundidade dos oceanos, mãe dos peixes e dos caracóis do mundo”. Ninguém sabe o que há no fundo do mar, isto é tratado no signo Iroso Meji (4-4 Meji), um dos signos do meridilogun; daí vindo a reza: OMI TUTO, ONA TUTO, TUTO ILÊ, TUTO ARIKU BABAWA (água fresca em minha vida, água fresca em minha casa, água fresca para todos os espíritos bons desta vida).
Com OLOKUN vivem dois espíritos: SAMUGAGAWA, que simboliza a vida e ACARO, que simboliza a morte. Ambos estão representados nas ferramentas de OLOKUN.
Este orixá não fala diretamente por sua boca, mas se comunica através de YEMANJÁ, já que esta foi o primeiro caminho que veio à terra e que, também, se denominou YEMBÓ. Gostaria de chamar-lhes a atenção quando digo “caminho de orixá”, pois muitos interpretam mal o que isto significa. Por exemplo, YEMANJÁ possui oito caminhos: primeiro YEMBÓ, segundo OLOKUN, terceiro MAYELEWÓ, quarto ASHABÁ, quinto OCUTÉ, sexto OCOTÓ, sétimo IBU-ARU e oitavo IBU AYEE. Estes caminhos estão representados nos sete mares que rodeiam a terra e nas sete reencarnações deste orixá em sua trajetória. Tudo isto está explicado em um patakin do signo Iroso Ogbe (4-8).
Existe a tradição de assentar OLOKUN para todos aqueles que irão fazer YEMANJÁ. OLOKUN só se assenta, ou seja, não se faz na cabeça de ninguém; aos filhos de OLOKUN se faz YEMANJÁ. Também, se assenta OLOKUN a qualquer pessoa que seja feita, não importando o santo, porém deve possuir assentamento de ESÚ. Os signos (4-7), (7-4), (4-3), (3-4), (7-7) e (1-4) tratam desta questão. Caso uma pessoa tenha algum impedimento para o feitura do santo, também, assentamos OLOKUN para esta, com o objetivo de garantir sua saúde e, particularmente, para protegê-la de doenças graves, até que seja possível a feitura do santo, porém, antes, ESÚ deve ser assentado.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

LENDA DE ERINLÉ


Orunmilá consultou Ifá, antes de deixar Ifé, para ir a um país de vales.Os adivinhos lhe disseram:"Neste país de vales, onde pretendes ir, encontrarás um bom amigo.Deves fazer oferendas antes de partir, para que tua viagem seja feliz."Orunmilá fez as oferendas. Ele ofereceu quatro pombos e oito mil búzios da costa.Quando ele chegou lá, quando Orunmilá chegou naquele país de vales, ele tornou-se amigo de Erinlê.Erinlê é um caçador.Erinlê é também um guerreiro. Erinlê é, além de tudo, um orixá. Esta amizade foi grande. Erinlê tomou dinheiro emprestado a Orunmilá. O montante deste empréstimo foi de doze mil búzios. Quando chegou a hora de Orunmilá retornar à casa de Ifé, Erinlê teria de reembolsar o empréstimo.Mas ele não tinha dinheiro. Ele sentiu vergonha e foi consultar Ifá. "Onde poderei encontrar este dinheiro?" Os adivinhos lhe aconselharam a oferecer um carneiro, um galo e um cachorro. Disseram-lhe, ainda, que deveria oferecer vinte e um sacos de búzios da costa.Erinlê exclamou: "Ah! Já devo doze mil búzios! Onde poderei encontrar todas estas coisas?" Erinlê tinha um talismã na mãos. A qualquer momento ele poderia, graças a este talismã, transformar-se em água. Quando ele assim o desejasse. Erinlê foi, então, ao lugar onde costumava caçar. Pôs o talismã no chão e entrou terra adentro. Neste lugar havia uma jarra com água. Seus filhos o procuraram durante muito tempo. Eles foram consultar Orunmilá para que ele examinasse o caso. Orunmilá lhes disse: "Façam oferendas para encontrar vosso pai. Talvez não o vereis mais, Mas encontrarão um sinal dele." Disse-lhes, ainda, Que oferecessem sete cachorros, sete carneiros, sete galos e Vinte e um sacos de búzios da costa. Os filhos de Erinlê fizeram as oferendas. Orunmilá lhes dissera, também, que deveriam irCom os carneiros, os cães e os galos, chamar pelo pai. E eles foram. Percorreram todos os lugares onde Erinlê costumava ir. Quando chegaram ao local onde Erinlê entrara terra adentro, Encontraram seus instrumentos de caça: Fuzil, lança, arco e flechas. Todo o material que ele usava para caçar. E, bem no meio disso tudo, eles viram a jarra com água. Esta água começou a escorrer.Esta água era abundante. Os filhos saudaram o pai assim: "Oh! Erinlê, o caçador, retorne à casa! Nós oferecemos carneiro, cachorro e galos!" E chamaram Erinlê, sem descanso. Quando eles ofereceram estas coisas, o rio os seguiu no caminho de casa. Erinlê lhes disse para deixar os galos livres, no lugar onde os encontraram. Os galos que naquele dia eles deixaram livres, são os galos que Erinlê cria perto de seu rio, até hoje. Ninguém ousa mata-los. Certa vez, pessoas ignorantes mataram alguns. Mas os galos ressuscitavam sempre. Dede que o prato estivesse pronto, Os galos saltavam da tigela, Batiam novamente suas asas – Puf! Puf! Puf! E iam empoleirar-se numa árvore Akô, Cantando de novo seu cocoricô!No mesmo momento em que Erinlê, o rio, se pôs a correr, Oxum preparava-se para partir da cidade de Ijumu. Ela também se pôs a correr. E eles se encontraram perto de Edé. Ali onde se encontraram, o leito destes rios é suave – eles estão felizes. E o curso de ambos tornou-se um mesmo. Juntos, eles correm para a lagoa.

LENDA DE IROKO


I" ...No começo dos tempos, a primeira árvore plantada foi Iroko. Iroko foi a primeira de todas as árvores, mais antiga que o mogno, o pé de obi e o algodoeiro. Na mais velha das árvores de Iroko, morava seu espírito. E o espírito de Iroko era capaz de muitas mágicas e magias. Iroko assombrava todo mundo, assim se divertia. À noite saia com o alugbongbo na mão, assustando os caçadores. Quando não tinha o que fazer, brincava com as pedras que guardava nos ocos de seu tronco. Fazia muitas mágicas, para o bem e para o mal. Todos temiam IroKo e seus poderes e quem o olhasse de frente enlouquecia até a morte. Numa certa época, nenhuma das mulheres da aldeia engravidava. Já não havia crianças pequenas no povoado e todos estavam desesperados. Foi então que as mulheres tiveram a idéia de recorrer aos mágicos poderes de Iroko. Juntaram-se em círculo ao redor da árvore sagrada, tendo o cuidado de manter as costas voltadas para o tronco. Não ousavam olhar para a grande planta face a face, pois, os que olhavam Iroko de frente enlouqueciam e morriam. Suplicaram a Iroko, pediram a ele que lhes desse filhos. Ele quis logo saber o que teria em troca. As mulheres eram, em sua maioria, esposas de lavradores e prometeram a Iroko milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. Cada uma prometia o que o marido tinha para dar. Uma das suplicantes, chamada Olurombi, era a mulher do entalhador e seu marido não tinha nada daquilo para oferecer. Olurombi não sabia o que fazer e, no desespero, prometeu dar a IroKo o primeiro filho que tivesse. Nove meses depois a aldeia alegrou-se com o choro de muitos recém-nascidos. As jovens mães, felizes e gratas, foram levar a Iroko suas prendas. Em torno do tronco de Iroko depositaram suas oferendas. Assim Iroko recebeu milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. Olurombi contou toda a história ao marido, mas não pôde cumprir sua promessa. Ela e o marido apegaram-se demais ao menino prometido. No dia da oferenda, Olurombi ficou de longe, segurando nos braços trêmulos, temerosa, a filhinha tão querida. E o tempo passou. Olurombi mantinha a criança longe da árvore. Mas um belo dia, passava Olurombi pelas imediações do Iroko, entretida que estava, vindo do mercado, quando, no meio da estrada, bem na sua frente, saltou o temível espírito da árvore. Disse Iroko: "Tu me prometeste a menina e não cumpriste a palavra dada. Transformo-te então num pássaro, para que vivas sempre aprisionada em minha copa." E transformou Olurombi num pássaro e ele voou para a copa de Iroko para ali viver para sempre. Olurombi nunca voltou para casa, e o entalhador a procurou, em vão, por toda parte. Ele mantinha a menina em casa, longe de todos. Todos os que passavam perto da árvore ouviam um pássaro que cantava, dizendo o nome de cada oferenda feita a Iroko. Até que um dia, quando o artesão passava perto dali, ele próprio escutou o tal pássaro, que cantava assim: "Onikaluku jeje euwre,euwre,euwre Onikaluku jeje agutan,agutan,bolojo Olurombi jeje Omo re,omo re a pon bi epo Olurombi o, jan-jan Iroko, Iroko, jan-ján (Todo mundo promete cabra Todo mundo promete ovelha bonita Prometeu a filha bonita, uma abiku muito linda Olorumbi não cumpriu o prometido a Iroko Com isso perdeu tudo) Ouvindo o relato de uma história que julgava esquecida, o marido de Olurombi entendeu tudo imediatamente. Sim, só podia ser Olurombi, enfeitiçada por Iroko. Ele tinha que salvar sua mulher! Mas como, se amava tanto sua pequena filha? Ele pensou e pensou e teve uma grande idéia. Foi à floresta, escolheu o mais belo lenho de Iroko, levou-o para casa e começou a entalhar. Da madeira entalhada fez uma cópia do rebento, o mais perfeito boneco que jamais havia esculpido. O fez com os doces traços da filha, sempre alegre, sempre sorridente. Depois poliu e pintou o boneco com esmero, preparando-o com a água perfumada das ervas sagradas. Vestiu a figura de pau com as melhores roupas da menina e a enfeitou com ricas jóias de família e raros adornos. Quando pronto, ele levou a menina de pau a Iroko e a depositou aos pés da árvore sagrada. Iroko gostou muito do presente. Era a menina que ele tanto esperava! E a menina sorria sempre, sua expressão, de alegria. Iroko apreciou sobremaneira o fato de que ela jamais se assustava quando seus olhos se cruzavam. Não fugia dele como os demais mortais, não gritava de pavor e nem lhe dava as costas, com medo de o olhar de frente. Iroko estava feliz. Embalando a criança, sua pequeno menina de pau, batia ritmadamente com os pés no solo e cantava animadamente. Tendo sido paga, enfim, a antiga promessa, Iroko devolveu a Olurombi a forma de mulher. Aliviada e feliz, ela voltou para casa, voltou para o marido artesão e para a filha, já crescida e enfim libertada da promessa. Alguns dias depois, os três levaram para Iroko muitas oferendas. Levaram ebo de milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros, laços de tecido de estampas coloridas para adornar o tronco da árvore. Eram presentes oferecidos por todos os membros da aldeia, felizes e contentes com o retorno de Olurombi..." Até hoje todos levam oferendas a Iroko. Porque Iroko dá o que as pessoas pedem. E todos dão para Iroko o prometido..."Esta bela ìtàn nos mostra como devemos tratar Iroko , sempre que lhe pedimos algo é de suma importância pagarmos o prometido pra não cairmos em seu desagrado , outra coisa é muito comum nas cidades nigerianas vermos em baixo do pé de Iroko geladeiras, bicicletas, jóias, etc... geralmente as famílias pagam a Iroko o que tem de mais valioso em sua casa.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

LENDA DE OTIN


Otim esconde que nasceu com 4 seios" Oquê, rei da cidade de Otã, tinha uma filha.Ela nascera com 4 seios e era chamada de Otim.O rei Oquê adorava sua filha e não permitia que ninguém soubesse de sua deformação.Este era o segredo de Oquê, este era o segredo de Otim.Quando Otim cresceu, o rei aconselho-a a nunca se casar, pois um marido, por mais que a amasse, um dia se aborreceria com ela e revelaria ao mundo seu vergonhoso segredo.Otim ficou muito triste, mas acatou o conselho do pai.Por muitos anos, Otim viveu em Igbajô, uma cidade vizinha, onde trabalhava no mercado.Um dia, um caçador chegou ao mercado, e ficou tão impressionado com a beleza de Otim, que insistiu em casar-se com ela.Otim recusou seu pedido por diversas vezes, mas, diante da insistência do caçador, concordou, impondo uma condição: o caçador nunca deveria mencionar seus quatro seios a ninguém.O caçador concordou, e impos também sua condição: Otim jamais deveria por mel de abalhas na comida dele, porque isso era seu tabu, seu euó.

...
Por muitos anos, Otim viveu feliz com o marido. Mas como era a esposa favorita, as outras esposas sentiram-se muito enciumadas.Um dia, reuniram-se e tramaram contra Otim.Era o dia de Otim cozinhar para o marido; ela preparava um prato de milho amarelo cozido, enfeitado com fatias de coco, o predileto do caçador.Quando Otim deixou a cozinha por alguns instantes, as outras sorrateiramente puseram mel na comida.Quando o caçador chegou em casa e sentou-se para comer, percebeu imediatamente o sabor do ingrediente proibido.Furioso, bateu em Otim e lhe disse as coisas mais cruéis, revelando seu segredo: "Tu, com teus quatro seios, sua filha de uma vaca, como ousaste a quebrar meu tabu?"A novidade espalhou-se pela cidade como fogo.Otim, a mulher de quatro seios, era ridicularizada por todos.Otim, fugiu de casa e deixou a cidade do marido
Voltou para sua cidade, Otã, e refugiou-se no palácio do pai.O velho rei a confortou, mas ele sabia que a noticia chegaria também a sua cidade.Em desespero, Otim fugiu para a floresta.Ao correr, tropeçou e caiu. Nesse momento, Otim transformu-se num rio, e o rio correu para o mar.Seu pai, que a seguia, viu que havia perdido a filha. Lá ia o rio fugindo para o mar.Querendo impedir o Rio de continuar sua fuga, desesperado, atirou-se ao chão, e, ali onde caiu, transformou-se em uma montanha, impedindo o caminho do rio Otim para o mar.Mas Otim contornou a montanha e seguiu seu curso.Oquê, a montanha, e Otim, o rio, são cultuados até hoje em Otã.Odé, o caçador, nunca se esqueceu de sua mulher.Fonte: "mitologia dos Orixás" - Reginaldo Prandi

terça-feira, 24 de junho de 2008

LENDA DE OBALUAIE


Obaluaê
Atotô!
Xapanã nasceu em Empê,no território Tapá,também chamado Nupê.Era um guerreiro terrível que,seguido de suas tropas,percorria o céu e os quatro cantos do mundo.Ele massacrava sem piedade aqueles que se opunham à sua passagem.Seus inimigos saíam dos combates mutilados ou morriam de peste.assim,chegou Xapanã em território Mahi,no Daomé.A terra dos mahis abrangia as cidades de Savalu e Dassa Zumê.Quando souberam da chegada iminente de Xapanã,os habitantes desta região,apavorados,consultaram um adivinho.E assim ele falou:"Ah! O grande guerreiro chegou de Empê!Aquele que se tornará o senhor do país!Aquele que tornará esta terra rica e próspera,chegou!Se o povo não aceitá-lo,ele o destruirá!É necessário que supliquem a Xapanã que vos poupe.Façam-lhe muitas oferendas; todas as que ele goste:inhame pilado,feijão,farinha de milho,azeite de dendê,picadinho de carne de bodee muita,muita pipoca!Será necessário,também,que todos se curvem diante dele,que o respeitem e o sirvam.Desde que o povo o reconheça como pai,Xapanã não o combaterá,mas protegerá a todos!"Quando Xapanã chegou,conduzindo seus ferozes guerreiros,os habitantes de Savalu e Dassa Zumê reverenciaram-no,encostando suas testas no chão,e saudaram-no:Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô!"Respeito e submissão!"Xapanã aceitou os presentes e as homenagens,dizendo:"Está bem! Eu os pouparei!Durante minhas viagens,desde Empê,minha terra natal,sempre encontrei desconfiança e hostilidade.Construam para mim um palácio.É aqui que viverei à partir de agora!"Xapanã instalou-se assim entre os mahis.O país prosperou e enriqueceu,e o grande guerreiro não voltou mais a Empê,no território Tapá,também chamado Nupê.Xapanã é considerado o deus da varíola e das doenças contagiosas.Ele tem,também,o poder de curar.As doenças contagiosas são,na realidade,punições aplicadas àqueles que o ofenderam ou conduziram-se mal.Seu verdadeiro nome,é perigoso demais pronunciar.Por prudência,é preferível chamá-lo Obaluaê,O "Rei Senhor da Terra"ou Omulu,o "Filho do Senhor".Quando Xapanã instalou-se entre os mahis,recebeu,em uma nova terra,o nome de Sapatá.Aí também,era preferível chamá-lo Ainon,o "Senhor da Terra",ou,então, Jeholu,o "Senhor das Pérolas".O fato de ser chamado Jeholu e Ainoncausou mal-entendidos entre Sapatá e os reis do Daomé,pois eles também usavam estes títulos.Enciumados,os Jeholu de Abomey expulsaram,várias vezes,Jeholu Ainon do Daomé e obrigaram-no a voltar,transitoriamente,à terra dos mahis.Jeholu Ainon vingou-se:vários reis daomeanos morreram de varíola!
Atotô!

LENDA DE OXUMARE


Oxumaré
Arrobo Boi!
Oxumaré era, antigamente, um adivinho (babalaô).O adivinho do rei Oni.Sua única ocupação era ir ao palácio real no "dia do segredo";dia que dá início à semana de quatro dias dos iorubas.O rei Oni não era um rei generoso.Ele dava apenas, a cada semana,uma quantia irrisória a Oxumaré que,por esta razão, vivia na miséria com a sua família.O pai de Oxumaré tinha um belo apelido.Chamavam-no "o proprietário do xale de cores brilhantes".Mas, tal como seu filho, ele não tinha poder.As pessoas da cidade não o respeitavam.Oxumaré, magoado com esta triste situação, consultou Ifá."Como tornar-se rico, respeitado,conhecido e admirado por todos?"Ifá o aconselhou a fazer oferendas.Disse-lhe que oferecesseuma faca de bronze, quatro pombos equatro sacos de búzios da costa.No momento que Oxumaré fazia estas oferendas,o rei mandou chamá-lo.Oxumaré respondeu:"Pois não, chegarei tão logo tenha terminado a cerimônia".O rei, irritado pela espera, humilhou Oxumaré,recriminou-o e negligenciou, até,a remessa de seus pagamentos habituais.Entretanto, voltando à sua casa,Oxumaré recebeu um recado:Olokum, a rainha de um país vizinho, desejava consultá-loa respeito de seu filho, que estava doente.Ele não podia manter-se de pé, caía,rolava no chão e queimava-se nas cinzas do fogareiro.Oxumaré dirigiu-se à corte da rainha Olokume consultou Ifá para ela.Todas as doenças da criança foram curadas.Olokum, encantada com este resultado,recompensou Oxumaré.Ela ofereceu-lhe uma roupa azul, feita de um rico tecido.Ela deu-lhe muitas riquezas, servidores e um cavalo,com o qual Oxumaré retornou à sua casa, em grande estilo.Um escravo fazia rodopiar um guarda-sol sobre a sua cabeçae músicos cantavam seus louvores.Oxumaré foi saudar o rei.O rei Oni ficou surpreso e disse-lhe:"Oh! De onde viestes?De onde saíram todas estas riquezas?"Oxumaré respondeu-lhe a rainha Olokum o havia consultado."Ah! Foi então Olokum que fez tudo isto por você!"Estimulado pela rivalidade,o rei Oni ofereceu a Oxumaré uma roupa do mais belo vermelho,acompanhada de muitos outros presentes.Assim, Oxumaré tornou-se rico e respeitado.Entretanto, Oxumaré era amigo de Chuva.Quando Chuva reunia as nuvens,Oxumaré agitava sua faca de bronzee a apontava em direção ao céu,como se riscasse de um lado a outro.O arco-íris aparecia e Chuva fugia.Todos gritavam: "Oxumaré apareceu!"Oxumaré tornou-se muito célebre.Nesta época, Olodumaré o deus supremo,aquele que estende a esteira real em casae caminha na chuva,começou a sofrer da vista e nada mais enxergava.Ele mandou chamar Oxumarée o mal dos seus olhos foram curados.Depois disto, Olodumaré não deixou mais que Oxumaré retornasse à Terra.Desde este dia, é no céu que ele morae só tem permissão de visitar a Terra a cada três anos.É durante estes anos que as pessoas tornam-se ricas e prósperas.

LENDA DE EWA


VConta uma lenda, que Yewá era esposa de Omulu, e era estéril, não podendo conceder um filho ao seu grande amado, sofrendo muito por isso.Numa bela tarde, a dona dos horizontes, estava a deleitar-se nas margens de um rio, juntamente com as suas serviçais que lavavam vários Alás (panos brancos). De repente, surge de dentro da floresta a figura de uma pessoa, que corria muito e muito assustado.- Como ousas interromper o deleite da mulheer de Omulu? Quem é você ? - indagou Yewá, sobre a irreverência do rapaz.- Ewa ! não era minha intenção interromper tão sagrado acto, oh esposa de Omulu ! Porém Ikú (a morte), persegue-me há vários dias e preciso escapar dela, pois tenho ainda um grande destino a seguir. Peço sua ajuda Yewá, peço que me escondas para que Ikú não me pegue ?!- Gostei de você e vou ajudá-lo. Esconda-see sob os Alás que minhas serviçais estão a lavar, e eu despistarei Ikú de seu caminho.E assim foi feito. O jovem rapaz enfiou-se sob os panos brancos, a esconder-se de Ikú.Alguns minutos se passaram, e eis que aparece Ikú. A morte !- Como ousas adentrar nos domínios de minhaa morada? Quem es tu ? - pergunta Ewa com ar de indignada.- Sou Ikú, e entro onde as pessoas menos essperam, entro e carrego comigo, dezenas, centenas e até milhares de pessoas ! Porém hoje estou a procurar um jovem rapaz, que está a escapar-me há dias. Você o viu passar por aqui ? - perguntou Ikú para Yewá.- Eu o vi sim Ikú, ele foi naquela direcçãoo. - Ewa apontava para uma direcção totalmente oposta ao das suas aldeãs, que estavam a esconder o jovem rapaz.Ikú agradeceu e seguiu pelo caminho indicado.Sendo assim, o rapaz pode sair do seu esconderijo e agradeceu a Yewá.- Ewa, agradeço sua ajuda, terei tempo agorra, de prosseguir meu caminho. Sou um grande adivinho, e em sinal de minha gratidão, a partir de hoje presenteio-lhe com o dom da adivinhação.Ewa, agradeceu o presente dado pelo rapaz, que já havia se virado para ir embora, quando retornou e falou a Yewá:- Sim eu sei, você não pode ter filhos, poiis lhe dou isso também. A partir de hoje, poderá ter filhos e alegrar ao seu marido.Então Yewá, agradeceu novamente muito contente e perguntou ao jovem rapaz:- Qual é seu nome ? E o rapaz respondeu:- Meu nome é Ifá !

LENDA DE NANA


VIII Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o òrìsà tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã.Oxalá criou o homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos òrìsà povoou a Terra. Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que voltar à terra, voltar à natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no começo mas quer de volta no final tudo o que é seu.Lenda concedida por: Reginaldo Prandi - Professor de Sociologia da USP

segunda-feira, 23 de junho de 2008

LENDA DE LOGUN


INo início dos tempos, cada orixá dominava um elemento da natureza, não permitindo que nada, nem ninguém, o invadisse. Guardavam sua sabedoria como a um tesouro.É nesse contexto que vivia a mãe das água doces, Oxun, e o grande caçador Odé. Esses dois orixás constantemente discutiam sobre os limites de seus respectivos reinados, que eram muito próximos.Odé ficava extremamente irritado quando o volume das águas aumentavam e transbordavam de seus recipientes naturais, fazendo alagar toda a floresta. Oxun argumentava, junto a ele, que sua água era necessária à irrigação e fertilização da terra, missão que recebera de Olorun. Odé não lhe dava ouvidos, dizendo que sua caça iria desaparecer com a inundação.Olorun resolveu intervir nessa guerra, separando bruscamente esses reinados, para tentar apaziguá-los.A floresta de Odé logo começou a sentir os efeitos da ausência das águas. A vegetação, que era exuberante, começou a secar, pois a terra não era mais fértil. Os animais não conseguiam encontrar comida e faltava água para beber. A mata estava morrendo e as caças tornavam-se cada vez mais raras. Odé não se desesperou, achando que poderia encontrar alimento em outro lugar.Oxun, por sua vez, sentia-se muito só, sem a companhia das plantas e dos animais da floresta, mas também não se abalava, pois ainda podia contar com a companhia de seus filhos peixes para confortá-la.Odé andou pelas matas e florestas da Terra, mas não conseguia encontrar caça em lugar algum. Em todos os lugares encontrava o mesmo cenário desolador. A floresta estava morrendo e ele não podia fazer nada.Desesperado, foi até Olorun pedir ajuda para salvar seu reinado, que estava definhando. O maior sábio de todos explicou-lhe que a falta d’água estava matando a floresta, mas não poderia ajudá-lo, pois o que fez foi necessário para acabar com a guerra. A única salvação era a reconciliação.Odé, então, colocou seu orgulho de lado e foi procurar Oxun, propondo a ela uma trégua. Como era de costume, ela não aceitou a proposta na primeira tentativa. Oxun queria que Odé se desculpasse, reconhecendo suas qualidades. Ele, então, compreendeu que seus reinos não poderiam sobreviver separados, unindo-se novamente, com a benção de Olorun.Dessa união nasceu um novo orixá, um orixá príncipe, Logun-Edé, que iria consolidar esse "casamento", bem como abrandar os ímpetos de seus pais. Logun sempre ficou entre os dois, fixando-se nas margens das águas, onde havia uma vegetação abundante. Sua intervenção era importante para evitar as cheias, bem como a estiagem prolongada. Ele procurava manter o equilíbrio da natureza, agindo sempre da melhor maneira para estabelecer a paz e a fertilidade.

LENDA DE OGUN


IDE COMO OGÚN OFERECEU À SUA ESPOSA OYA SEU AKORO (Ìyá Sandra Medeiros Epega - Texto extraído do site "JORNAL TAMBOR) Ògún, o ferreiro de Ire, gostava de sua liberdade. Morava na forja, na última rua da cidade, com sua esposa Oyá, que o ajudava. Sua casa não tinha porta ou janela e o tecto era formado pelas folhas de mariwo, que impediam a chuva e o excesso de sol de incomodá-lo. Ele via os amigos passarem na rua e os saudava com um aceno. Era considerado homem importante, e fora presenteado pela comunidade com um "akoro", pequena coroa de metal que usava com muito orgulho. Pedira ao seu irmão Ode, o caçador, também chamado Osóòssi, que caçasse para ele um enorme touro selvagem que vivia por perto. Tratou o couro do animal e fez dele um enorme fole. Sua esposa Oyá manejava o fole o dia todo, enquanto ele trabalhava na forja, com o calor em seu rosto. E quem passava naquela rua ouvia a música que saia da forja: "Wuuush", fazia o fole. "Lakaiye, lakaiye", ecoavam a bigorna e o martelo. Havia muito trabalho e Ògún e Oyá não paravam nunca.Uma família resolveu certo dia realizar uma festa para o velho Pai que morrera no ano anterior. Contrataram a Sociedade Egungun da aldeia, cerimónias de propiciação foram feitas pelos Sacerdotes, e o Egungun do velho Pai passeou todo o dia pela cidade, com a família e os amigos atrás, felizes de rever seu Pai de volta ao mercado, tomando sol na praça, andando na estrada, entrando nas casas, brincando e conversando com todos. Bem mais tarde, Egungun passou pela forja, para rever seu amigo ferreiro. E, ao ouvir a música que saia de lá, pôs-se a dançar na rua. Todos ao seu redor riam e gritavam de alegria, Ògún acelerava os movimentos, e o "Lakaiye, lakaiye" saia mais forte. Oyá manejava rapidamente o fole, e ouvia-se "Wuuush, wuuush, wuuush", quase sem parar. O povo aplaudia aquela música e cada vez mais juntava gente ao redor da forja. Ògún estava muito orgulhoso de sua mulher. Ela realmente era muito forte, tinha bom ritmo, sabia como transformar seu fole em um instrumento musical, e com isso encantara e dominara a Egungun, tido como difícil de lidar. A noite caiu e Egungun ainda dançava na rua. Ògún disse a Oyá que largasse o fole e fosse dançar com Egungun. Ele ao mesmo tempo manejaria o fole e bateria o martelo. E por horas e horas, Oyá e Egungun dançaram e alegraram o povo de Ire. Ògún então tirou seu akoro da cabeça e presenteou com ele sua esposa Oyá, dizendo à ela: "Oyá, iyawo mi, akoro mi lonoon."( Oyá, minha esposa, use meu akoro na rua). E a partir de então, Oyá teve o direito de usar um akoro de metal na cabeça, direito este que conserva até hoje, na velha Mãe África e no novo mundo, sendo a única ayaba que pode fazê-lo, uma vez que seu marido Ògún Alakoro ( o dono do akoro), a autorizou a isto.Oyá ficou conhecida então como "aquela que usa akoro na rua", "aquela que faz Egungun dançar com a música da forja", "a Mãe que dança com o filho toda a noite sem se cansar", "a poderosa Mãe que conseguiu cansar Egungun", "mulher de Orixá Ògún que recebeu dele o akoro e com ele divide os poderes sobre a forja", "a que tem akoro e o usa na rua, sem que seu dinheiro tenha sido gasto para isso".AXÉ, AXÉ, AXÉ!

LENDA DE YEMONJA


Iemanjá
Odô Iyá Yemanjá Ataramagbá,ajejê Lodô, ajejê nilê!
Iemanjá era a filha de Olokun, a deuda do mar.Em Ifé, ela tornou-se a esposa de Olofin-Odudua,com o qual teve dez filhos.Estas crianças receberam nomes simbólicos e todos tornaram-se orixás.Um deles foi chamado Oxumaré, o Arco-Íris,"aquele-que-se desloca-com-a-chuva-e-revela-seus-segredos."De tanto amamentar seus filhos, os seios de Iemanjá tornaram-se imensos.Cansada da sua estadia em Ifé,Iemanjá fugiu na direção do "entardecer-da-terra",como os iorubas designam o Oeste, chegando a Abeokutá.Ao norte de Abeokutá, vivia Okere, rei de Xaki.Iemanjá continuava muito bonita.Okere desejou-a e propôs-lhe casamento.Iemanjá aceitou mas, impondo uma condição, disse-lhe:"Jamais você ridicularizará da imensidão dos meus seios."Okere, gentil e polido, tratava Iemanjá com consideração e respeito.Mas, um dia, ele bebeu vinho de palma em excesso.Voltou para casa bêbado e titubeante.Ele não sabia mais o que fazia.Ele não sabia mais o que dizia.tropeçando em Iemanjá, esta chamou-o de bêbado e imprestável.Okere, vexado, gritou:"Você, com seus seios compridos e balançantes!Você, com seus seios grandes e trêmulos!"Iemanjá, ofendida, fugiu em disparada.Certa vez, antes do seu primeiro casamento,Iemanjá recebera de sua mãe, Olokun,uma garrafa contendo uma poção mágica pois, dissera-lhe esta:"Nunca se sabe o que pode acontecer amanhã.Em caso de necessidade, quebre a garrafa, jogando-a no chão."Em sua fuga, Iemanjá tropeçou e caiu.A garrafa quebrou-se e dela nasceu um rio.As águas tumultuadas deste rio levaram Iemanjá em direção ao oceano,residência de sua mãe Olokun.Okere, contrariado, queria impedir a fuga de sua mulher.Querendo barrar-lhe o caminho, ele transformou-se numa colina,chamada ainda hoje, Okere, e colocou-se no seu caminho.Iemanjá quis passar pela direita, Okere deslocou-se para a direita.Iemanjá quis passar pela esquerda, Okere deslocou-se para a esquerda.Iemanjá, vendo assim bloqueado seu caminho para a casa materna,chamou Xangô, o mais poderoso dos seus filhos.Kawo Kabiyesi Sango, Kawo Kabiyesi Obá Kossô!"Saudemos o Rei Xangô, saudemos o Rei de Kossô!"Xangô veio com dignidade e seguro do seu poder.Ele pediu uma oferenda de um carneiro e quatro galos,um prato de "amalá", preparado com farinha de inhame,e um prato de "gbeguiri", feito com feijão e cebola.E declarou que, no dia seguinte, Iemanjá encontraria por onde passar.Nesse dia, Xangô desfez todos os nós que prendiam as amarras sa chuva.Começaram a aparecer nuvens dos lados da manhã e da tarde do dia.Começaram a aparecer nuvens da direita e da esquerda do dia.Quando todas elas estavam reunidas, chegou Xangô com seu raio.Ouviu-se então: Kakará rá rá rá...Ele havia lançado seu raio sobre a colina Okere.Ela abriu-se em duas e, suichchchch...Iemanjá foi-se para o mar de sua mãe Olokun.Aí ficou e recusa-se, desde então, a voltar em terra.Seus filhos chamam-na e saúdam-na:"Odô Iyá, a Mãe do rio, ela não volta mais.Iemanjá, a rainha das águas, que usa roupas cobertas de pérolas."Ela tem filhos no mundo inteiro.Iemanjá está em todo lugar onde o mar vem bater-se com suas ondas espumantes.Seus filhos fazem oferendas para acalmá-la e agradá-la.Odô Iyá, yemanjá, AtaramagbáAjejê lodô! Ajejê nilê!"Mãe das águas, Iemanjá, que estendeu-se ao longe na amplidão.Paz nas águas! Paz na casa!"

domingo, 22 de junho de 2008

LENDA DE YANSÃ


Iansã
Êpa Heyi!
Ogum foi um dia caçar na floresta.Ele ficou na espreita e viu um búfalo vindo em sua direção.Ogum avaliou logo a distância que os separavae preparou-se para matar o animal com a sua espada.Mas viu o búfalo parar e, de repente,baixar a cabeça e despir-se de sua pele.Desta pele saiu uma linda mulher.Era Iansã, vestida com elegância, coberta de belos panos,um turbante luxuoso amarrado à cabeçae ornada de colares e braceletes.Iansã enrolou sua pele e seus chifres,fez uma trouxa e escondeu num formigueiro.Partiu, em seguida, num passo leve, em direção ao mercado da cidade,sem desconfiar que Ogum tinha visto tudo.Assim que Iansã partiu, Ogum apoderou-se da trouxa,foi para casa, guardou-a no celeiro de milhoe seguiu, também, para o mercado.Lá, ele encontrou a bela mulher e cortejou-a.Iansã era bela, muito bela, era a mais bela mulher do mundo.Sua beleza era tal que se um homem a visse, logo a desejaria.Ogum foi subjugado e pediu-a em casamento.Iansã apenas sorriu e recusou sem apelo.Ogum insistiu e disse-lhe que a esperaria.Ele não duvidava de que ela aceitasse sua proposta.Iansã voltou à floresta e não encontrou seu chifre nem sua pele."Ah! Que contrariedade! Que teria se passado? Que fazer?"Iansã voltou ao mercado, já vazio, e viu Ogum que a esperava.Ela perguntou-lhe o que ele havia feito daquilo que ela deixara no formigueiro.Ogum fingiu inocência e declarou que nada tinha a ver,nem com o formigueiro, nem com o que estava nele.Iansã não se deixou enganar e disse-lhe:"Eu sei que você escondeu minha pele e meu chifre.Eu sei que você se negará a me revelar o esconderijoOgum, vou me casar com você e viver em sua casa.Mas, existem certas regras de conduta para comigo.Estas regras devem ser respeitadas, também, pelas pessoas da sua casa.Ninguém poderá me dizer: Você é um animal!Ninguém poderá utlizar cascas de dendê para fazer fogo.Ninguém poderá rolar um pilão pelo chão da casa".Ogum respondeu que havia compreendido e levou Iansã.Chegando em casa, Ogum reuniu suas outras mulheres eexplicou-lhes como deveriam comportar-se.Ficara claro para todos que ninguém deveria discutir com Iansã,nem insultá-la.A vida organizou-se.Ogum saía para caçar ou cultivar o campo.Iansã, em vão, procurava sua pele e seus chifres.Ela deu à luz a uma criança, depois um a segunda e uma terceira...Ela deu à luz a nove crianças.Mas as mulheres viviam enciumadas da beleza de Iansã.Cada vez mais enciumadas e hostis,elas decidiram desvendar o mistério da origem de Iansã.Uma delas conseguiu embriagar Ogum com vinho de palma.Ogum não pôde mais controlar suas palavras e revelou o segredo.Contou que Iansã era, na realidade, um animal;que sua pele e seus chifres estavam escondidos no celeiro de milho.Ogum recomendou-lhes ainda:"Sobretudo não procurem vê-los, pois isto a amedrontará.Não lhes digam jamais que é um animal!"Depois disso, logo que Ogum saía para o campo,as mulheres insultavam Iansã:"Você é um animal! Você é um animal!!"Elas cantavam enquanto faziam os trabalhos da casa:"Coma e beba, pode exibir-se, mas sua pele está no celeiro de milho!"Um dia, todas as mulheres saíram para o mercado.Iansã aproveitou-se e correu para o celeiro.Abriu a porta e, bem no fundo, sob grandes espigas de milho,encontrou sua pele e seus chifres.Ela os vestiu novamente e se sacudiu com energia.Cada parte do seu corpo retomou exatamente seu lugar dentro da pele.Logo que as mulheres chegaram do mercado, ela saiu bufando.Foi um tremendo massacre, pelo qual passaram todas.Com grandes chifradas Iansã rasgou-lhes a barriga,pisou sobre os corpos e redou-os no ar.Iansã poupou seus filhos que a seguiam chorando e dizendo:"Nossa mãe, nossa mãe! É você mesma?Nossa mãe, nossa mãe!! Que você vai fazer?Nossa mãe, nossa mãe!!! Que será de nós?"O búfalo os consolou, roçando seu corpo carinhosamente no deles e dizendo-lhes:"Eu vou voltar para a floresta; lá não é um bom lugar para vocês.Mas, vou lhes deixar uma lembrança."Retirou seus chifres, entregou-lhes e continuou:"Quando qualquer perigo lhes ameaçar,quando vocês precisarem dos meus conselhos,esfreguem estes chifres um no outro.Em qualquer lugar que vocês estiverem,em qualquer lugar que eu estiver,escutarei suas queixas e virei socorrê-los."Eis porque dois chifres de búfalo estão sempre no altar de Iansã.

sábado, 21 de junho de 2008

LENDA DE OXALUFÃ


Oxalá era marido de Nanã, senhora do portal da vida e da morte. E por determinação dela, somente os seres femininos tinham acesso ao portal, não permitindo aproximação de seres masculinos em hipótese alguma. Determinação que servia também para Oxalá, que com o passar do tempo não se conformava com esta decisão, não só por ser marido de Nanã, como por sua própria importância no panteão dos orixás. Assim pensou até que encontrou uma forma de burlar as determinações de sua esposa. Não fugindo de sua cor branca, vestiu-se de mulher, colocou o adê (coroa) com os chorões no rosto, próprio das yabás e aproximou-se no portal satisfazendo enfim sua curiosidade. Foi pego, porém, por Nanã no exacto momento em que via o outro lado da dimensão. Nanã aproximou-se e determinou:- "Já que tu, meu marido, vestiste-te de mulher para desvendar um segredo tão importante, vou compartilhá-lo contigo. Terás, então, a incumbência de ser o princípio do fim, aquele que tocará o cajado três vezes ao solo para determinar o fim de um ser. Porém, jamais conseguirás te desfazer das vestes femininas e, daqui para frente terás todas as oferendas fêmeas!".E Oxalá passou a comer não mais como os demais santos aborós (homens), mas sim cabras e galinhas como as yabás. E jamais se desfez das vestes de mulher. Em compensação, transformou-se no senhor do princípio da morte e conheceu todos os seus segredos.

LENDAS DE OXALUFÃ


IOxalufã ( a versão velha de Oxalá ) era um rei muito idoso que andava com dificuldade, apoiado em seu cajado, o opaxorô. Um dia, sentindo saudades do filho Xangô, resolveu visitá-lo. Como era costume na terra dos orixás, consultou um babalaô para saber como seria a viagem. Este recomendou que não viajasse. Mas, como o orixá teimasse em ver o filho, foi instruído a levar três roupas brancas e limo da costa ( pasta extraída do caroço de dendê) e fazer tudo o que lhe pedissem.Com essas precauções, o orixá partiu e, no meio do caminho, encontrou Exu Elepô, dono do azeite-de-dendê, sentado a beira da estrada, com um pote ao lado. Com boas maneiras, ele pediu a Oxalufã que o ajudasse a colocar o pote nos ombros. O velho orixá, lembrando as palavras do babalaô, resolveu auxiliá-lo; mas Exu Elepô, que adora brincar. Derramou todo o dendê sobre Oxalufã.O orixá manteve a calma, limpou-se no rio com um pouco do limo, vestiu outra roupa e seguiu viagem. Mais adiante encontrou Exu Onidu, dono do carvão, e Exu Aladi, dono do óleo do caroço de dendê. Por duas vezes mais foi vitima dos brincalhões e procedeu como da primeira vez, limpando-se e vestindo roupas limpas, continuando sua caminhada rumo ao reino de Xangô.Ao se aproximar das terras do filho, avistou um cavalo que conhecia muito bem, pois presenteara Xangô com o animal tempos atras. Resolveu amarrá-lo para levá-lo de volta, mas foi mal interpretado pelos soldados, que julgaram-no um ladrão. Sem permitir explicações, eles espancaram o velho ate quebrar seus ossos e o arrastaram para a prisão. Usando seus poderes, Oxalá fez com que não chovesse mais desse dia em diante; as colheitas foram prejudicadas e as mulheres ficaram estéreis.Preocupado com isso, Xangô consultou seu babalaô e este afirmou que os problemas se relacionavam a uma injustiça cometida sete anos antes, pois um dos presos fora acusado de roubo injustamente. O orixá dirigiu-se a prisão e reconheceu o pai. Envergonhado, ordenou que trouxessem água para limpá-lo e, a partir desse dia, exigiu que todos no reino se vestissem de branco em sinal de respeito ao pai, como forma de reparar a ofensa cometida. É por isso que em todos os terreiros do Brasil comemora-se as Águas de Oxalá, cerimonia na qual todos os participantes vestem-se de branco e limpam seus apetrechos com profunda humildade para atrair a boa sorte para o ano todo.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

ORIXA OKO - ORIXÁ DA AGRICULTURA


ORIXÀ OKO
Quando o mundo foi criado, ainda não existia nada plantado. Aqui morava um homem que nada fazia. Este homem se chamava Oko, o nome que ele tinha recebido do grande criador. Um dia, Olorum chamou este velho e lhe disse:- Olha, eu criei o mundo, porém, faltam as plantações, e eu não sei com fazê-las, como plantar. Você vai ser incumbido desta tarefa.
Oko ficou sentado no chão, pensando:
Que grande incumbência Olorum me deu! O que eu vou fazer? Pensou, pensou, e aí se lembrou de que nas suas andanças pelas estradas tinha encontrado uma palmeira, e que embaixo dessa palmeira sempre tinha uns molequinho. Esse moleque era muito sapeca e muito sagaz, com um corpo bem reluzente. Ele estava sempre com um pedaço de pau mexendo na terra. Oko se lembrou de que um dia ele perguntou a esse rapazinho:
- Que estás a fazer?
E o rapaz lhe respondeu:
Você não sabe que a terra mexida e plantada dá frutos?
Plantada como? – perguntou Oko.
- É... A gente arruma semente, e tudo isso...
- Como arruma semente, se ainda não existe arvore, não existe nada? – interrompeu Oko. O molequinho lhe disse:
- Olhe que prá Olorum nada é difícil!
Oko ficou admirado com as palavras daqueles molequinho. Quando Olorum lhe deu essa empreitada, ele logo se lembrou de molequinho.
Voltou ao mesmo lugar e encontrou o molequinho sentado embaixo da palmeira, cavando terra. O buraco já estava maior, e daquele buraco já estava saindo uma terra mais avermelhada. Oko perguntou ao menino:
- Porque esta terra está saindo mais vermelha?
- É sinal de que algo de diferente existe nas profundezas da terra. Você vê que eu estou cavando e aqui em cima a terra é mais seca; agora, esta outra parte, é mais molhada, e agora já está saindo uma parte mais densa, mais dura – respondeu o menino, mostrando a terra a Oko.
- Continue a cavar – falou Oku.
Mas enquanto o menino estava cavando, a madeirazinha que ele estava usando quebrou. Ele aí pelejou, esfregou no chão, e fez uma ponta na madeira. O menino estava descobrindo naquele momento uma ferramenta na hora em que ele raspou a madeira no chão. E com ela ele recomeçou a cavar juntos e tiraram uma lasca dessa terra, que era a pedra. Oko disse:
- Vamos fazer algo para a gente cavar a terra. Vamos ver se conseguimos qualquer coisa com aquela lasca de pedra.
O molequinho continuou a trabalhar e Oko lhe disse:
- Eu vou me embora, você veja se sozinho consegue pensar em algo mais útil para nós trabalharmos.
E foi embora, foi embora, foi embora. Foi andando e matutando pelo caminho.No outro dia quando Oko voltou, o molequinho estava com o fogo aceso e com vários pedaços daquela pedra de fogo. Quando o moleque fez aquele fogo, ele fez também um canal saindo de dentro do fogo. No que as tais pedras iam de derretendo iam escorrendo e o menino ia formando lâminas. Assim foi criado o ferro. E sabe quem era esse molequinho? Era Ogum, o criador do ferro. Daí em diante, Orixá Oko, o grande rezador e plantador, com suas idéias sobre plantação, colheita e lavoura , e Ogum, com as suas ferramentas para ajudar a cavar a terra, o arado, o machado, a foice e a enxada, continuaram a trabalhar juntos nas plantações que têm grande importância na criação do mundo.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

CANDOMBLÉ MESMO É COZINHA



“Candomblé mesmo é cozinha...”

Dentro do universo do Candomblé, a cozinha merece uma atenção especial, por ser um dos espaços onde se passa e se constitui o sagrado. Tudo nela remete a esta dimensão. Assim, “A cozinha de santo” aparece sempre como algo distinto, separado da cozinha do dia a dia. Separada na sua grande maioria, não por limites externos, mas internos que são representados por mudanças de atitude, ações, formas de uso, etc.
Em muitos terreiros de Candomblé, o local onde são preparadas as comidas dos Orixás é o mesmo onde são feitas as comidas do dia a dia. Esta separação, todavia é realizada de forma bastante visível e determinada. Muitas vezes se reserva para as comidas de santo um fogão especial que pode ser de lenha ou industrial, enquanto a outra permanece num fogão menor. Comum é se trocar de horários. É muito difícil se mexer com as panelas dos Orixás ao lado de outras panelas, bem como misturar os utensílios destas duas cozinhas.
“ Cozinha do santo” é, assim, mais que um lugar determinado que, em terreiros de estrutura maior, os mais antigos, se tem para preparar somente os pratos dos Orixás e, sim, um espaço criado e redefinido a cada momento, no terreiro, através da separação dos objetos, utensílios e mudanças de comportamento. Tudo participa do sagrado: o espaço em si , as panelas, travessas, pratos, bacias, cestos, peneiras, colheres de pau, ralos, o pilão, as frigideiras, formas de assar e sobretudo as pessoas que nele transitam.
A cozinha é cheia de interdições como: não conversar mais que o necessário, não falar alto, gritar, cantar ou dançar músicas que não sejam do santo; não entrar pessoas que não sejam iniciadas-dependendo do que se estiver fazendo, somente um número muito restrito-não admitir que mulheres menstruadas permaneçam nela, etc. Neste espaço sacralizado, tudo vai ganhando significado: a bacia que cai, o garfo, a faca, a colher, o óleo que faz fumaçar o fogo, etc. Na cozinha se aprende além do “ponto” certo de determinado prato, que não se dá as costas para o fogo, não se joga sal no chão, não se mexe comida de Orixá com colher que não seja de pau, que a comida mexida por duas pessoas desanda, que não se joga água no fogo e que muitas pessoas por terem o sangue ruim fazem a comida desandar. Ou que a presença de pessoas de um determinado Orixá faz com que uma certa comida não dê certo, como por exemplo: em cozinha onde se tem gente de Xangô o milho de pipoca queima antes de estourar. Pela cozinha, entram as pessoas de maior prestígio na Religião e é nela própria que, em certas ocasiões, muito antes mesmo de se chegar no peji do Orixá, que este é consultado a fim de se saber se a comida foi bem preparada ou não.
Embora marcada por vários limites, a cozinha é mesmo escola mestra, local onde se aprende as lições mais antigas, através do exercício longo e paciente da observação. Local onde permanecem por maior período de tempo os iniciados, seja varrendo, lavando, limpando, guardando, acendendo ou mantendo o fogo, cozinhando, com olhos e ouvidos atentos a tudo que se passa nela. Daí entende-se o dizer corrente: Candomblé mesmo é cozinha!!!” Talvez por ser ela mais que um local de transformação e sim de passagem e transmissão de conhecimento, por onde transita algo essencial que ultrapassa os limites das oposições por situar-se no mais intimo e profundo ser do homem: o comer.

SIGNIFICADO DOS RITMOS TOCADOS NOS BARRACÕES


A presença do ritmo no barracão parece estar associada à dança, que rememora os atributos míticos das divindades. Desse modo, um deus guerreiro, como Ogun, estabelece uma coreografia na qual os movimentos serão ágeis, rápidos e vigorosos, adequando-se ao ritmo executado, diferentemente dos passos lentos, fluidos e ondulantes de Oxum, uma deusa das águas.
"Eu vejo a música como a...representação de expressar a dança do orixá, o preceito, o que ele faz, como ele vive...Como se fosse eu falando da minha vida ou cantando alguma coisa para ele." (Jorge).
Assim, com seus ritmos característicos, cada orixá expressa, na linguagem musical e gestual, suas particularidades, criando uma atmosfera na qual estas se tornam inteligíveis e plenas de sentido religioso. Daí podermos falar dos ritmos mais freqüentes no candomblé em termos do que representam e de sua relação com as entidades às quais homenageiam.
O adarrum é o ritmo mais citado como característico de Ogun. É um ritmo "quente", rápido e contínuo, que pode ser executado sem canto, ou seja, apenas pelos atabaques. Pode, também, ser executado com o objetivo de propiciar o transe. O toque de bolar, por exemplo, se faz ao som do adarrum.
O aguerê é o ritmo de Oxóssi. É acelerado, cadenciado e exige agilidade na dança, do mesmo modo que a caça exige a agilidade do caçador. O ritmo de Obaluaê é o opanijé, um ritmo pesado, "quebrado" (por pausas) e lento. Este ritmo lembra a circunspeção deste deus das epidemias, ligado à terra.
O bravum, embora não seja atribuído especialmente a algum orixá, é freqüentemente escolhido para saudar Oxumarê, Ewá e Oxalá. É um ritmo relativamente rápido, bem dobrado e repicado. A dança preferida de Xangô se faz ao som do alujá, um ritmo quente, rápido, que expressa força e realeza recordando, através do dobrar vigoroso do Rum, os trovões dos quais Xangô é o senhor.
Ijexá, o único ritmo tocado com as mãos no rito Ketu é, por excelência, o ritmo de Oxum. É um ritmo calmo, balanceado, envolvente e sensual, como a deusa da água doce, à qual faz alusão. Ele é tocado ainda para o orixá filho de Oxum, Logun-Edé e, algumas vezes para Exu e para Oxalá.
Para Iansã, divindade dos raios e dos ventos, toca-se o agó, ilu, ou aguerê de Iansã, termos que designam um mesmo ritmo que, de tão rápido, repicado e dobrado, também é conhecido como "quebra-prato". É o mais rápido ritmo do candomblé, correspondendo à personalidade agitada, contagiante e sensual desta deusa guerreira, senhora dos ventos e que tem poder de afastar os espíritos dos mortos (eguns).
Sató, um ritmo vagaroso e pesado, é geralmente tocado para Nanã, considerada a anciã das iabás (orixás femininos).
O batá, talvez um dos ritmos mais característicos do candomblé, pode ser tocado em duas modalidades: batá lento e batá rápido, sendo o primeiro executado para os orixás cuja dança comedida denota certas características de suas personalidades, como a dança de Oxalufã, o deus arcado e velho que, com seu paxorô (cajado), criou o mundo. Significativamente, o termo batá, designa também o tambor de duas membranas, afinadas por cordas, cujo uso nos candomblés do Norte e Nordeste do Brasil é tão difundido que talvez por este motivo o ritmo tenha tomado seu nome, ainda quando não executado por este instrumento.
Vamunha é um outro ritmo, também conhecido por: ramonha, vamonha, avamunha, avania ou avaninha, tocado para todos os orixás. É um toque rápido, empolgado e tocado em situações específicas como a entrada e saída dos filhos de santo no barracão e para a retirada do orixá incorporado. É nesse momento que o orixá saúda os pontos de axé da casa e se retira sob a aclamação dos presentes.
Todos os toques (ritmos) acima são característicos do rito Ketu e, conforme procuramos demonstrar, associam letra, melodia e dança que, integrados, "narram" a experiência arquetípica dos orixás, vividas em nível individual e grupal e cujo ápice é o transe. Alguns destes ritmos são tão personalizados dos orixás que podem dispensar as letras ou mesmo a dança como elemento de identificação. É o caso do alujá, do opanijé e do agó (quebra-prato), consagrados a Xangô, Obaluaê e Iansã, respectivamente.

domingo, 27 de abril de 2008

NASCIMENTO DO 17º ODU


Esù ÓjìsèbòUma História de Revelações e Sabedoria.Essa história revela o nascimento do 17o. Odù, como e de onde nasceu Òsetùwá, em decorrência, veremos a analise através de como Èsù se tornou Èsù Òsijè-Ebó, o transportador e encarregado de encaminhar as oferendas entre a terra e o òrun.Quem deveria consultar o porta-voz-principal-do-culto-de-Ifá; a nuvem esta pendurada por cima da terra...Bábálàwó dos tempos imemoriais;Os "siris" estão no rio; a marca do dedo requer Yèréòsùn (pó sagrado de Ifá).Estes foram os Bábálàwó que jogaram Ifá para os quatrocentos Irúnmolè, senhores do lado direito, e jogaram Ifá para os duzentos malè, senhores do lado esquerdo. E jogaram Ifá para Òsun, que tem uma coroa toda trabalhada de contas, no dia em que ele (Òsetùá) veio a ser o décimo sétimo dos Irùnmolè que vieram ao mundo, quando Òlódumàrè enviou os òrìsà, os dezesseis, ao mundo, para que viessem criar e estabelecer a terra.E vieram verdadeiramente nessa época. As coisas que Òlódumàrè lhes ensinou nos espaços do òrun constituíram nos pílares de fundação que sustentam a terra para a existência de todos os seres humanos e de todos os ebora. Olódumàrè lhes ensinou que quando alcançassem a terra, deveriam abrir uma clareira na floresta, consagrando-a de Orò, o Igbó Orò. Deveriam abrir uma clareira na floresta, consagrando-a a Eégún, o Igbó Eégún, que seria chamado Igbó Òpá. Disse que deveriam abrir uma clareira na floresta consagrando-a a Odù Ifá, o Igbó Odù, onde iriam consultar o oráculo a respeito das pessoas.Disse ele que deveriam abrir um caminho para os Òrìsà e chamar esse lugar de Igbó Òrìsà, floresta para adorar os òrìsà. Olódumàrè lhes ensinou a maneira como deveriam resolver os problemas de fundação (assentamento) e adoração dos ojóbo (lugares de adoração) e como fariam as oferendas para que não houvesse morte prematura, nem esterilidade, nem infecundidade, que não houvesse perda, nem vida paupérrima, não houvesse nada de tudo isso sobre a terra. Para que as doenças sem razão não lhes sobrevivessem, que nenhuma maldição caisse sobre eles, que a destruição e a desgraça não se abatessem sobre eles.Olódumàrè ensinou aos dezesseis òrìsà o que eles deveriam realizar para evitar todas as coisas. Ele os delegou e enviou à terra, a fim de executarem tudo isso. Quando vieram ao òde àiyé, a terra, fundaram fielmente na floresta o lugar de adoração de Orò, o Igbá Orò. Fundaram na floresta o lugar de adoração de Eégún. Fundaram na floresta o lugar de adoração de Ifá que chamamos Igbódù. Também abriram um caminho para os òrìsà, que chamamos igbóòòsa.Executaram todos esses programas visando a ordem.Se alguém estava doente, ele ia consultar Ifá ao pé de Òrúnmìlá. Se acontecia que Eégún poderia salvá-lo, dir-lho-iam. Seria conduzido ao lugar de adoração na floresta de Eégún ao Igbó-Igbàlè, para que ele fizesse uma oferenda para Egúngún. Talvez que um de seus ancestrais devesse ser invocado como Eégún, para que o adorasse, a fim de que esse Eégún o protegesse. Se havia uma mulher estéril, Ifá seria consultado, a respeito dela, a fim de que Orúnmìlà pudesse indicar-lhe a decocção de Òsun, que ela deveria tomar. Se havia alguém que estava levando uma vida de miséria, Orúnmìlà consultaria Ifá, a respeito dele. Poderia ser que Orò estivesse associado à sua própria entidade criadora. Orúnmìlà diria a essa pessoa que é a Orò que ela devia adorar. E ela seria conduzida à floresta de Orò.Eles seguiram essa prática durante muito tempo.Enquanto realizavam as diversas oferendas, eles não chamavam Òsun. Cada vez que iam a floresta de Eégún, ou à floresta de Orò, ou à floresta de Ifá, ou à floresta de Òòsà, a seu retorno, os animais que eles tinham abatido, fossem cabras, fossem carneiros, fossem ovelhas, fossem aves, entregavam-nos a Òsun para que ela os cozinhasse.Preveniram-na que quando ela acabasse de preparar os alimentos, não devia comer nenhum pouco, porque deviam ser levados aos Malè, lá onde as oferendas são feitas.Òsun começou a usar o poder das mães ancestrais - àse Iyá-mi - e a estender sobre tudo o que ela fazia esse poder de Iyá-mi-Àjé, que tornava tudo inútil.Se se predissesse a alguém que ele ou ela não fosse morrer, essa pessoa não deixava de morrer. Se fosse proclamado que uma pessoa não sobreviveria, a pessoa sobreviveria. Se se previsse que uma pessoa daria à luz um filho, a pessoa tornava-se estéril. Um doente a quem se dissesse que ele ficaria curado não seria jamais aliviado de sua doença.Essas coisas ultrapassavam seu entendimento, porque o poder de Olódumàre jamais tinha falhado. Tudo que Olódumàre lhes havia ensinado eles o aplicava, mas nada dava resultado. Que era preciso fazer ?Quando se congregaram numa reunião, Orúnmìlà sugeriu que, já que eles eram incapazes de compreender o que se estava passando por seus próprios conhecimentos, não havia outra solução senão consultar Ifá novamente.Em consequência, Orúnmìlà trouxe seu instrumento adivinhatório, depois consultou ifá. Contemplou longamente a figura do Odù que apareceu e chamou esse Odù pelo nome de òsetùá.Ele olhou em todos os sentidos. A partir do resultado definitivo de sua leitura, Orúnmìlà transmitiu a resposta a todos os outros Odù-àgbà. Estavam todos reunidos e concordaram que não havia outra solução para todos eles, os òrìsàs-irúnmàlè, senão encontrar um homem sábio e instruído que podesse ser enviado a Olódumàrè, para que mandasse a solução do problema e o tipo de trabalho que devia ser feito para o restabelecimento da ordem, a fim de que as coisas voltassem a normalizar-se, e nada mais interferisse em seus trabalhos.Ele, Orúnmìlà, deveria ir até a Olódumàrè. Orúnmìlà ergueu-se. Serviu-se de seus conhecimentos para utilizar a pimenta, serviu-se de sua sabedoria para tomar nozes de obi, despregou seu òdùn (tecido de ráfia) e o prendeu no seu ombro, puxou seu cajado do solo, um forte redemoinho o levou, e ele partiu até os vastos espaços do outro mundo para encontrar Olódumàrè. Foi lá que Orúnmìlà reencontrou Èsù Òdàrà. Èsù já estava com Olódumàrè. Èsù fazia sua narração a Olódùmarè. Explicava que aquilo que estava estragando o trabalho deles na terra era o fato de eles não terem convidado a pessoa que constitui a décima sétima entre eles. Por essa razão, ela estragava tudo, Olódumàrè compreendeu.Assim que Orúnmìlà chegou, apresentou seus agravos a Olódumàrè. Então Olódumàrè lhe disse que deveria ir e chamar a décima sétima pessoa entre eles e levá-la a participar de todos os sacrificios a serem oferecidos. Porque, além disso, não havia nenhum outro conhecimento que Ele lhes pudesse ensinar senão as coisas que Ele já lhes havia dito.Quando Orúnmìlà voltou à terra, reuniu todos os òrìsà e lhes transmitiu o resultado de sua viagem.Chamaram Òsun e lhe disseram que ela deveria segui-los por todos os lugares onde deveriam oferecer sacrificios. Mesmo na floresta de Eégún. Òsun recusou-se: ela jamais iria com eles. Começaram a suplicar a Òsun e ficaram prostrados um longo tempo. Todos começaram a homenageá-la e a reverênciá-la. Òsun os maltratava e abusava deles. Ela maltratava Òrìsànlá, maltratava Ògún, maltratava Orúnmìlà, maltratava Òsányín, maltratava Orànje, ela continuava a maltratar todo mundo. Era o sétimo dia, quando Òsun se apaziguou. Então eles disseram que viesse. Ela replicou que jamais iria, disse, entretanto, que era possível fazer uma outra coisa já que todos estavam fartos dessa história.Disse que se tratava da criança que levava no seu ventre. Somente se eles soubessem como fazer para que ela desse à luz uma criança do sexo masculino, isso significaria que ela permitiria então que ele a substituísse e fosse com eles. Se ela desse à luz uma criança do sexo feminino, podiam estar certos que esta questão não se apagaria em sua mente. Ficariam aí, pedaços, pedaços, pedaços. E eles deveriam saber com certeza que esta terra pereceria; deveriam criar uma nova. Mas se ela desse a luz a um filho-homem, isso queria dizer que, evidentemente, o próprio Olórun os tinha ajudado.Assim apelou-se para Òrìsàlá e para todos os outros òrìsà para saber o que deveriam fazer para que a criança fosse do sexo masculino. Disseram que não havia outra solução a não ser que todos utilizassem o poder - àse - que Olódumàrè tinha dado a cada um deles; cada dia repetidamente deveriam vir, para que a criança nascesse do sexo masculino, Todos os dias iam colocar seu àse - seu poder - sobre a cabeça de Òsun, dizendo o que segue."Você Òsun ! Homem ele deverá nascer, a criança que você traz em si!" Todos respondiam "assim seja", dizendo "tó!" acima de sua cabeça...Assim fizeram todos os dias, até que chegou o dia do parto de Òsun. Ela lavou a criança. Disseram que ela deveria permitir-lhes vê-la. Ela respondeu "não antes de nove dias". Quando chegou o nono dia, ela os convocou a todos. Esse era o dia da cerimônia do nome, da qual se originaram todas as cerimônias de dar o nome. Mostrou-lhes a criança, e a pôs nas mãos de Òrìsà. Quando Òrìsàálá olhou atentamente a criança e viu que era um menino, gritou: "Músò"...! (hurra...!). Todos os outros repetiram "Músò".....! Cada um carregou a criança, depois o abençoaram. Disseram "somos gratos por esta criança ser um menino". Disseram "que tipo de nome lhe daremos". Òrìsà disse: "vocês todos sabem muito bem que cada dia abençoamos sua mãe com nosso poder para que ela pudesse dar à luz uma criança do sexo masculino, e essa criança deveria justamente chamar-se À-S-E-T-Ù-W-Á (o poder trouxe ela a nós)" Disseram: "acaso você não sabe que foi o poder do àse, que colocamos nela, que forçou essa criança a vir ao mundo, mesmo se antes ela não queria vir à terra sob a forma de uma criança do sexo masculino? Foi nosso poder que a trouxe à terra". Eis por que chamaram a criança de Àsetùwà.Quando chegou o tempo, Orúnmìlà consultou o oráculo Ifá acerca da criança, porque todos devem conhecer sua origem e destino, colheram o instrumento de Ifá para consultá-lo. Eles o manipularam e o adoraram. Era chegado o momento de consultar Ifá a respeito dele, para saberem qual era seu Odù, para que o pudessem iniciar no culto de Ifá. Levaram-no à floresta de Ifá, que chamamos Igbódù, onde Ifá revelaria que Òsè e Òtùá eram seu Odù. Este foi o resultado que ele deu a respeito da criança. Orúnmìlà disse: "a criança que Òsè e Òtùá fizeram nascer, que antes chamamos de Àsetùwá", disse, "chamemo-la de Òsètùá". Foi por isso que chamaram a criança com o nome do Odù de Ifá que lhe deu nascimento, Òsètùá.Àsetùá era o nome que ele trazia anteriormente. Assim, a criança participou do grupo dos outros Odù, ao ponto de ir com eles a todos os lugares onde se faziam oferendas na terra. Foi assim que todas as coisas que Olódùmàrè lhes tinha ensinado deixaram de ser corrompidas. Cada vez que proclamavam que as pessoas não morreriam, elas realmente sobreviviam e não morriam. Se diziam que as pessoas seriam ricas, elas tornavam-se realmente ricas. Se diziam que a mulher estéril conceberia, ela realmente dava à luz. A própria Òsun deu a essa criança um nome nesse dia. Disse ela: "Osó a gerou (significando que a criança era filho do poder mágico), porque ela mesma era uma ajé e a criança que ela gerou é um filho homem. Disse ela: "Akin Osò", (Akin Osò: poderoso mago; homem bravo dotado de um grande poder sobrenatural) eis o que a criança será !É por isso que eles chamaram Òsetùá de Akin Osò, entre todos os Odù Ifá e entre os dezesseis òrìsà mais anciãos. Depois eles disseram que em qualquer lugar onde os maiores se reunissem, seria compulsório que a criança fosse um deles. Se não pudessem encontrar o décimo sétimo membro, não poderiam chegar a nenhuma decisão, e se dessem um conselho, não poderiam ratifica-lo.Finalmente, aconteceu! Sobreveio uma seca na terra. Tudo estava seco! Não havia nem orvalho! Fazia três anos que tinha chovido pela última vez. O mundo entrou em decadência. Foi então que eles voltaram a consultar Ifá, Ifà àjàlàiyé. (aquele que administra a terra) Quando Orúnmìlà consultou Ifá àjàlàiyé, disse que deveriam fazer uma oferenda, um sacrificio, e preparar a oferenda de maneira que chegasse a Olódùmàrè, para que Olódùmàrè pudesse ter piedade da terra, e assim não virasse as costas à terra e se ocupasse dela para eles. Porque Olódùmàrè não se ocupava mais da terra. Se isso continuasse, a destruição era inevitável, era iminente. Somente se pudessem fazer a oferenda, Olódumàrè teria sempre misericórdia deles. Ele se lembraria deles e zelaria pelo mundo.Foi assim que prepararam a oferenda. Eles colocaram, uma cabra, uma ovelha, um cachorro e uma galinha, um pombo, uma preá, um peixe, um ser humano e um touro selvagem, um pássaro da floresta, um pássaro da savana, um animal doméstico.Todas essas oferendas, e ainda dezesseis pequenas quartinhas cheias de azeite de dendê que eles juntaram nesse dia. E ovos de galinha, e dezesseis pedaços de pano branco puro. Prepararam as oferendas apropriadas usando folhas de Ifá, que toda oferenda deve conter. Fizerram um grande carrego com todas as coisas. Disseram então, que o próprio Èjì-Ogbè deveria levar essa oferenda a Olódumàrè. Ele levou a oferenda até as portas do òrun, mas não, lhe foram abertas. Èjì-Ogbè voltou à terra. No segundo dia Òyèkú-Méji a carregou, ele voltou. Não lhe abriram as portas. Ìwòrí-Méji levou a oferenda, assim fizeram Òdi-Méji; Ìrosùn-Méji; Òwórin-Méji; Òbàrà-Méji; Òkànràn-Méji; Ogúndá-Méji; Òsá-Méji; Ìká-Méji; Òtúrúpòn-Méji; Òtúá-Méji; Ìrètè-Méji; Òsè-Méji; Òfún-Méji. Mas não puderam passar, Olórun não abria as portas. Assim decidiram que o décimo sétimo entre eles deveria ir e experimentar o seu poder, antes que tivessem que reconhecer que não tinham mais nenhum poder.Foi assim que Òsetùá foi visitar certos Babaláwo, para que eles consultassem o oráculo para ele. Esses Babaláwo traziam os nomes de Vendedor-de-azeite-de-dendê e Comprador-de-azeite-de-dendê. Ambos esfregaram seus dedos com pedaços de cabaça. Jogaram Ifá para Akin Osò, o filho de Enìnàre (aquela que foi colocada na senda do bem) no dia em que ele conseguiu levar a oferenda ao poderoso òrun. Disseram que ele deveria fazer uma oferenda; disseram, quando ele acabasse de fazer a oferenda, disseram, no lugar a respeito do qual ele estava consultando Ifá, disseram, ali, ele seria coberto de honras, disseram, sucederá que a posição que ele ali alcançasse, disseram, essa posição seria para sempre e não desapareceria jamais.Disseram, as honras que ele ali receberia, disseram, o respeito, seriam intermináveis.Disseram: "Você verá uma anciã no seu caminho", disseram, "faça-lhe o bem". Assim, quando Òsetùá acabou de preparar a oferenda, seis pombos, seis galinhas com seis centavos e quando estava em seu caminho, ele encontrou uma anciã. Ele carregava a oferenda no caminho que levaria a Èsù, quando encontrou essa anciã na sua rota. Essa anciã era da época em que a existência se originou. Disse: "Akin Osò! à casa de quem vai você hoje ?" Disse: "eu ouvi rumores a respeito de todos vocês na casa de Olófin, que os dezesseis Odù mais idosos levaram uma oferenda ao poderoso òrun sem sucesso".Disse: "assim seja".Disse: "é sua vez hoje?''Disse: "é minha vez".Disse: "tomou alimentos hoje?"Respondeu ele: "eu tomei alimentos".Disse ela "quando você chegar a seu sitio, diga-lhes que você não irá hoje".Disse ela: "Esses seis centavos que você me deu", Disse: "há três dias não tinha dinheiro para comprar comida"Disse: "diga-lhes que você não ira hoje".Disse: "quando chegar amanhã, você não deve comer, você não deve beber antes de chegar ali".Disse: "você deve levar a oferenda". Disse: "todos esses que ali foram, comeram da comida da terra, essa é a razão por que Olórun não lhes abriu a porta!"Quando Òsetùá voltou a casa de Oba Àjàlàiyè, todos os Odù Ifá estavam reunidos lá. Disseram: "você deve estar pronto agora, é sua vez hoje de levar a oferenda ao òrun, talvez a porta seja aberta para você!" Disse ele que estaria pronto no dia seguinte, porque não tinha sido avisado na véspera.Quando chegou o dia seguinte, Òsetùá, foi encontrar Èsù e lhe perguntou o que deveria fazer.Èsù respondeu: "Como! Jamais pensei que você viria me avisar antes de partir". Disse ele: "isso vai acabar hoje, eles lhe abrirão a porta !" Perguntou ele: "Tomou algum alimento?" Òsetùá lhe respondeu que uma anciã lhe tinha dito na véspera que ele não devia comer absolutamente nada. Então Òsetùá e Èsù puseram-se a caminho. Partiram em diração aos portões do òrun.Quando chegaram lá, as portas já se encontravam abertas, encontraram as portas abertas. Quando levaram a oferenda a Olódùmarè e Ele examinou. Olòdumarè disse: "Haaa! Você viu qual foi o último dia que choveu na terra?! Eu me pergunto se o mundo não foi completamente destruido. Que pode ser encontrado lá?" Òsetùá não podia abrir a boca para dizer qualquer coisa. Olódùmarè lhe deu alguns "feixes"de chuva. Reuniu, como outrora, as coisas de valor do òrun, todas as coisas necessárias para a sobrevivencia do mundo, e deu-lhas. Disse que ele, Òsetùá, deveria retornar.Quando deixaram a morada de Olódumarè, eis que Òsetùá perdeu um dos "feixes" de chuva. Então a chuva começou a cair sobre a terra.Choveu, choveu, choveu, choveu....Quando Òsetùá voltou ao mundo, em primeiro lugar foi ver Quiabo. Quiabo tinha produzido vinte sementes. Quiabo que não tinha nem duas folhas, um outro não tinha mesmo nenhuma folha em seus ramos.Voltou-se em diração à casa do Quiabo escarlate, Ilá Ìròkò tinha produzido trinta sementes. Quando chegou a casa de Yáyáá, esse havia produzido cinquenta sementes. Foi então até à casa da palmeira de folhas exuberantes, que se encontrava na margem do rio Awónrin Mogún. A palmeira tinha dado nascimento a dezesseis rebentos. Depois que a palmeira deu nascimento a dezesseis rebentos ele voltou à casa de Oba Àjàlàiyé.Àse se expandia e se estendia sobre a terra. Sêmen convertia-se em filhos, homens em seu leito de sofrimento se levantavam, e todo o mundo tornou-se aprazível, tornou-se poderoso. As novas colheitas eram trazidas dos plantios. O inhame brotava, o milho amadurecia, a chuva continuava a cair, todos os rios transbordavam, todo mundo era feliz.Quando Òsetùá chegou, carregaram-no para montar num cavalo (signo de realeza: só os mais poderosos podem-se permitir a criar ou montar cavalos em País Yorùbá). Estavam mesmo a ponto de levantar o cavalo do chão para mostrar até que ponto as pessoas estavam ricas e felizes. Estavam de tal forma contentes com ele, que o cobriram de presentes, os que estavam em sua direita os que estavam em sua esquerda. Começaram a saudar Òsetùá: "Você é o único que conseguiu levar a oferenda ao òrun, a oferenda que você levou ao outro mundo era poderosa !Disseram, "sem hesitação, rápido, aceite meu dinheiro e ajude-me a transportar minha oferenda ao òrun! Òsetùá! Aceite rápido! Òsetùá aceite minha oferenda!" Todos os presentes que Òsetùá recebeu, os deu todos a Èsù Òdàrà. Quando os deu a Èsù, Èsù disse: "Como!" Há tanto tempo ele entregava os sacrificios, e não houve ninguém para retribuir-lhe a gentileza."Você Òsetùá! Todos os sacrificios que eles fizerem sobre a terra, se não os entregarem primeiro a você, para que você possa trazer a mim, farei que as oferendas não sejam mais aceitáveis".Eis a razão pela qual sempre que os Babaláwo fazem sacrificios, qualquer que seja o Odù Ifá que apareça e qualquer que seja a questão, devem invocar Òsetùá para que envie as oferendas a Èsù. Porque é só de sua mão que Èsù aceitará as oferendas para levá-las ao òrun. Porque quando Èsù mesmo recebia os sacrificios das pessoas da terra e os entregava no lugar onde as oferendas são aceitas, eles não demonstravam nenhum reconhecimento pelo que ele fazia por todos até o dia em que Òsetùá teve de carregar o sacrificio e Èsù foi abrir o caminho apropriado para o òrun, para alcançar a morada de Olódumàrè. Quando se abriram as portas para ele. A qualidade de gentileza que Èsù recebeu de Òsetùá era realmente muito valiosa para ele (Èsù). Então ele e Òsetùá decidiram combinar um acordo pelo qual todas as oferendas que deveriam ser feitas deveriam ser-lhe enviadas por intermédio de Òsetùá. Foi assim que Òsetùá converteu-se no entregador de oferendas para Èsù. Èsù Òdàrà, foi assim que ele se converteu em O portador de oferendas para Olódumàrè, Èsù Òsijé-Ebó, no poderoso òrun. É assim como este Itan (verso)