sexta-feira, 4 de abril de 2008

MOÇA RICA E A MOÇA POBRE


Moça rica e a pobre
A Moça Rica e a Pobre Era uma moça muito bonita que morava num palácio. Tinha também uma moça bonita, porém muito pobrezinha, que veio com sua velha mãe pedir proteção à rica, para fazer uma cabana ali encostada no muro do palácio. Mas ela era “omòrìsà”(votada ao culto dos òrìsàs); no fundo do quintal tinha um rio e na beira do rio um pé de orobó que servia para tirar e fazer obrigação.De manhã ela ia para beira do rio, tirava uma cesta de orobó e colocava no pé de seus Òrìsàs.No dia seguinte comia com a sua mãe. A moça rica nem mandava os restos da sua cozinha para elas. Nenhuma das duas tinham homens dentro de casa (para prover sua manutenção), mas iam vivendo.A moça rica, um dia ficou à espiar para ver como elas viviam sem lhe pedir nada (ojú kòkòrò=inveja, ciúme). Viu a moça varrer o terreiro, limpar a cabana, lavar a roupa e sair para o rio. Viu ela voltar com os orobós. Foi lá no fundo do pátio, trepou no muro e viu o pé de orobó. Então a moça rica disse que ia acabar com aquilo. Mandou chamar a moça pobre em seu palácio. Perguntou: Como é que você vive? Não tendo marido e como faz para poder viver! Aí a moça pobre lhe disse: “Eu sou Omòrìsà”. Ela perguntou: “Adora seus Òrìsàs?Como você pode realizar obrigação? Ela lhe disse: “Trago orobó à Eles”, Ela perguntou: É só com isso que você os alimenta? A moça pobre lhe respondeu: “É”. Quando a moça pobre saiu ela disse: Você vai ver se tira mais orobós...” No dia seguinte, cedinho, a moça rica foi lá e tirou todos os orobós, naquela ganância, encheu um balaio. Carregou o balaio e jogou tudo em cima de seus Òrìsàs. Quando a moça pobre foi lá, não havia mais orobó. Olhou para o rio, assim muito triste e viu, que ainda tinha um só lá na ponta de um galho. Subiu no pé de orobó e quando depois de muito trabalho já ia pegando nele, ele caiu no rio. Ficou dentro da água subindo e descendo assim. Aí ela disse: “Orobó mim, ele caiu dentro da água; era para eu dar aos meus Òrìsàs”. Mas o orobó continuou dançando na água e se afastando com a


continuando....
a correnteza.Ela corria atrás pela beira do rio cantando: “Orobó mim so sá, emim kodan kodan so sá, orobó mim so sá.”O que quer dizer: “Orobó venha para onde eu estou; tenha compaixão de mim.” Quanto mais ela cantava, mais ele saltava na água e ia dando aqueles pulinhos para adiante, na correnteza.E ela atrás, cantando...Estava descalça, com roupa de casa, os cabelos soltos. Foi quando o orobó chegou num redemoinho e ela vendo que ele ia embora mesmo, ajoelho-se e tornou a cantar. Estava nesta agonia quando ela ouviu aquela voz lhe dizer: “Que estais fazendo aí minha filha?” Era um velho(Bàbá aribò) ou um verdadeiro Abuké-Kuajá(Òrìsàlá velho e fraco); pediu que levasse ele em casa e ela se pôs a ajudar o velho e se esqueceu do orobó.Foi levado o velho, e ele se fazendo de mais bambo do que era e de mais pesado. E ela, com toda a paciência, ajudando o velho, até que chegaram em sua casa. Era uma casa toda suja.Colocou o velho na cama. Tinha só uma galinha branca no terreiro. Meu velho, estais com fome? Perguntou. Ela varreu toda a casa e procurou comida mas só achou arroz e cebola.Pegou a galinha e matou e procurou o sal...Não tinha. Aí ela pensou! Ele é velho, come assim mesmo. Desfiou o peito da galinha e foi dando a ele para comer. O velho aí fazia a boca mais mole. A baba escorria pelo canto da boca e ela enxugava e ia dando a ele de comer. Ele comeu o arroz e a parte da galinha. Ele já tinha mandado colocar sua touca assim num canto em cima de um banco, para poder comer. Depois de comer ele se pôs a gemer. Ela estava terminando de arrumar a casa. Veio ver o que era. O velho então levantou a perna e mostrou uma ferida enorme. Ensinou que ela tirasse pimenta e fizesse uma cataplasma. Mas ela teve pena e fez somente uma lavagem da ferida.

continuando....
Viu, uma bola branca no canto...Efum(giz) e pensou: deve ser é um sedativo: colocou em cima da ferida e o mesmo perguntou: Cadê a pimenta? Ela disse, já coloquei, depois contou a sua história. Quando ela terminou o velho disse, todo dengoso, que levantasse ele. Ela levantou o velho, calçando-lhe as costas com travesseiros. Olhou para moça pobre e lhe disse: Minha filha, coloque a touca na minha cabeça.Quando ela levantou a touca era um enorme orobó. A moça pobre ficou muito contente, e o velho lhe disse que, ao sair de sua casa, voltasse pelo mesmo caminho. Disse: Você irá ver três cuias no rio. Não ligue. Siga o seu caminho. Encontrará outro que vem para beira do rio.Pegue ele e abra ali mesmo, mas não olhe para trás. Mais adiante encontrará três cuias gritando como os primeiros: caminhe, caminhe, caminhe. Deixe eles. Depois encontrará três outros que vêm para beira do rio. Pegue eles e só abra em casa. Depois disso ele despediu-se da moça pobre, dizendo: Deus lhe acompanhe e que lhe faça feliz. E voltou a lhe dizer, no mundo poucas pessoas se encontra com a sua paciência. Quando a moça pobre deu por ela, o velho havia desaparecido. Ela saiu e encontrou as três cuias gritando “caminhe, caminhe, caminhe.” Disse: -- Sai-te e continuou o caminho. Depois encontrou um só. Pegou ele, quebrou e não olhou para trás.Era uma riqueza que saiu acompanhando ela... Encontrou os três gritando de novo. Nada. Nem ligou. Encontrou os dois, pegou e quebrou. Saíram carruagens, criados, vestidos, tudo que havia de melhor e foram acompanhando ela, sem ela ver. Encontrou os outros três gritando, mas não pegou. No fim apareceram os três que vinham para a beira do rio. Ela pegou e levou para sua casa. Quebrou lá dentro de casa e era dinheiro que afoga ela e a sua mãe. Os fofoqueiros aí disseram que não era dela aquilo tudo e sim da moça rica. Foi à frente da moça rica e contou tudo, mas contou ao inverso. “Ejónilé”.A moça rica não dormiu nessa noite. De manhã foi até a beira do rio, pegou um orobó
continuando....
e jogou dentro da água. Saiu atrás, do mesmo, até chegar no redemoinho. Aí veio o velho novamente. Ela disse para si mesma: Não gosto de velho...Depois lembrou-se. Ah! É o velho da história.Pegou ele resmungando e quando o velho se fazia de mais mole ela se zangou com ele. Pegou de qualquer jeito e jogou na cama. Deu à ele pouca água, fez comida mal feita. Quando o velho lhe mostrou a ferida ela botou pimenta. O velho chorou. Aí ela disse: Você ontem levou pimenta e não reclamou... Quando chegou na hora dela ir, o velho disse tudo igual à outra, mas não disse: A felicidade te acompanhe.Quando apareceram logo as três primeiras cuias gritando: caminhe, caminhe, caminhe, ela disse: esse velho quer me enganar...À outra ele não disse que deixasse esses... Aí pegou os três e quebrou na beira do rio. Eram três “cães de rabo”. Pegou os outros três e era tudo o que não prestava que saía também atrás dela, sem ela ver. Depois ela pegou os três mais e levou para casa. Quando chegou em sua casa, quebrou e saiu uma serpente devoradora que comeu ela e tudo que possuía e o seu palácio desabou.Provérbio: “Não humilheis os outros para não serdes humilhados.”

Nenhum comentário: